“Medicamento é o principal agente tóxico que causa
intoxicação em seres humanos no Brasil, ocupando o primeiro lugar nas
estatísticas do SINITOX desde 1994; os benzodiazepínicos, antigripais,
antidepressivos, antiinflamatórios são as classes de medicamentos que
mais causam intoxicações em nosso País (44% foram classificadas como
tentativas de suicídio e 40% como acidentes, sendo que as crianças
menores de cinco anos – 33% e adultos de 20 a 29 anos – 19% constituíram
as faixas etárias mais acometidas pelas intoxicações por
medicamentos)”.
In: Bortoletto, Maria Élide e Bochner, Rosany: Impacto dos
Medicamentos nas Intoxicações Humanas no Brasil (Cad. Saúde Pública, RJ
15 (4)859869-out/dez. l999.
ANSIOLÍTICOS E TRANQÜILIZANTES
BENZODIAZEPÍNICOS
Grupo de medicamentos que apresentam propriedades farmacológicas
(ansiolíticas, sedativo-hipnóticas e/ou anticonvulsivantes) e efeitos
tóxicos que parecem ser conseqüentes de sua ação direta sobre o Sistema
Nervoso Central. Apesar de existirem diferenças significativas de
farmacocinética entre seus numerosos compostos, não parece haver
superioridade de um sobre outro quando se toma por base apenas a
farmacocinética.
Em geral, os benzodiazepínicos (BZD) são rápida e
completamente absorvidos por via oral. No entanto, alguns como
clordiazepóxido e oxazepam levam horas para atingir concentrações
sangüíneas máximas. A ligação proteica plasmática é variável e
praticamente todos são metabolizados no fígado por oxidação e/ou
conjugação, com formação de metabólitos, muitos dos quais ativos. A
excreção é renal.
É possível classificar estes medicamentos em vários grupos, de acordo com sua meia-vida de eliminação: Ação muito curta – Midazolam (Dormonid); Ação curta – Alprazolam (Frontal), Lorazepam (Lorax, Mesmerim), Oxazepan (Clizepina; Ação Longa –
Clordiazepóxido (Psicosedin, Limbitrol, Relaxil), Diazepam
(Calmociteno, Diazepan, Diempax, Kiatrium, Valium), Flurazepam
(Dalmadorm, Lunipax).
Estudos sugerem que os benzodiazepínicos interagem
em um receptor específico com um modulador proteico endógeno que
antagoniza a ligação com o GABA, potencializando os seus efeitos. Certos
benzodiazepínicos estão associados com dependência e alguns produzem
reações de abstinência mais intensas que outros.
Clínica da Intoxicação Aguda:
Absorção de dose excessiva está usualmente associada com sedação,
sonolência, fala arrastada, diplopia, disartria, ataxia e confusão
mental. Podem ocorrer depressão respiratória e hipotensão arterial. Na
maioria dos casos a evolução é benigna, mas existem relatos de intensa
depressão respiratória e coma e inclusive de óbitos após o uso de
benzodiazepínicos de ação muito curta, especialmente quando
administrados por via intravenosa. Crianças, idosos e pacientes com
insuficiência cardiorrespiratória são mais sensíveis e o álcool e
barbitúricos podem potencializar os efeitos tóxicos.
Tratamento: É essencial assistência
respiratória, manter vias aéreas, oxigênio se necessário. Monitorar
respiração, pressão arterial, sinais vitais. Ingesta:
Para BZD de ação muito curta, nunca induzir vômitos, início de
depressão e coma podem ser rápidos. Para BZD de ação longa, induzir
vômitos somente em poucos minutos da ingestão. Paciente consciente, dar
via oral carvão ativado, catárticos. Paciente inconsciente e/ou
superdosagem: lavagem gástrica com intubação prévia para prevenir
aspiração. Administrar antídoto Flumazenil – reverte sedação dos BZD, há
melhora parcial dos efeitos respiratórios. Hipotensão: administrar
fluidos endovenosos, manter equilíbrio hidroeletrolítico, vasopressores
se necessário. Medidas sintomáticas e de manutenção.
FENOTIAZÍNICOS
Os derivados da fenotiazina, a princípio utilizados em terapêutica como
antissépticos urinários e anti-helmínticos, representam um dos mais
importantes grupos de medicamentos empregados nas mais variadas afecções
neurológicas e exercem uma ação farmacológica bastante extensa,
incluindo efeitos sedativos e potencialização dos efeitos de sedativos,
narcóticos e anestésicos; ação antiemética; efeitos sobre a regulação da
temperatura corporal; efeitos bloqueadores colinérgicos e adrenérgicos
(tipo alfa); efeitos anti-histamínicos e anti-serotonínicos; efeitos
antipruriginosos; efeitos analgésicos e outros. Estas propriedades são
as responsáveis pelas chamadas reações colaterais, que se tornam mais
acentuadas nos casos de intoxicação.
Em virtude de sua alta eficácia terapêutica, seu
consumo é muito grande e generalizado, com tendência a aumentar
continuamente e como decorrência, o número de intoxicações.
Os derivados da fenotiazina podem se divididos em três grupos: -Derivados Piperazínicos: flufenazina (Anatensol, Motival), trifluoperazina (Stelazine, Stelapar), perfenazina ( Mutabon). –Derivados Alifáticos: clorpromazina (Amplictil), promazina (Metilsedor), levomepromazina (Neozine). –Derivados Piperidínicos: tioridazina (Melleril)
Estes grupos diferem em potência por mg e propensão
em causar efeitos colaterais específicos. Em geral, quanto mais potente o
fenotiazínico, maior a propensão em determinar reações extrapiramidais e
quanto menor a potência, maior a propensão em determinar efeitos
secundários tipo autonômicos, sedação ou convulsões.
São geralmente bem absorvidos pelo tubo
gastrointestinal e parenteralmente. Após absorção, são rapidamente
distribuídos pelos tecidos; 70% da dose administrada é logo removida da
circulação porta pelo fígado.
Clínica da Intoxicação Aguda: Risco
cardiovascular e de depressão do SNC. Síndrome neuroléptica maligna é
potencialmente fatal e pode ocorrer com doses terapêuticas e após poucos
dias de uso. Sedação, miose, hiper ou hipotensão, taquicardia, retenção
urinária, xerostomia, ausência de sudorese. Sintomas extrapiramidais.
Convulsão, coma, falência respiratória, prolongamento do intervalo QT,
arritmias, distúrbios da temperatura.
Tratamento: Esvaziamento
gástrico por lavagem gástrica se superdosagem até 12 horas após ingesta
(fenotiazinas reduzem a motilidade gástrica). Indução do vômito se
ingesta recente (minutos) em paciente alerta e assintomático, evitar se
após algumas horas (convulsões ou reações distônicas de cabeça e pescoço
podem resultar em aspiração). Carvão ativado a cada 2 ou 3 horas e
catártico salino. Monitorização respiratória e cardiovascular. Se
hipotensão/choque – Trendelemburg, Ringer Lactato EV, vasopressores de
escolha (agonistas alfa-adrenérgicos): noradrenalina, fenilefrina,
metoxamina, em infusão contínua EV. Não utilizar beta-adrenérgicos.
Arritmias ventriculares: fenitoína, 10 a 15mg/Kg, lentamente, ou
lidocaína 1mg/Kg EV ou marcapasso. Convulsões: diazepan seguido de
fenitoína. Sintomas extrapiramidais: difenidramina EV (2 mg/Kg até o
máximo de 50mg/dose em administração lenta) ou mesilato de benztropina
(0,5mg/Kg em crianças, 2mg em adultos), biperideno 2mg IM ou EV lento a
cada 30 min., se necessário até 4 doses por dia. Síndrome neuroléptica
maligna: resfriamento corporal, diazepan EV, dantrolene. Paciente
sintomáticos devem ficar internados no mínimo 24 h após o ECG normal;
assintomáticos devem ser observados no mínimo por 4 horas.
BUTIROFENONAS E TIOXANTENOS
Neurolépticos de largo uso em psiquiatria. Grupo das Butirofenonas:
droperidol(Droperidol), haloperidol (Haldol, Haloperidol), penfluridol
(Semap), pimozide (Orap). Exercem forte antagonismo dopaminérgico
central e tem pouca ação anticolinérgica. Grupo dos Tioxantenos: tioxeno
(Navane).
De um modo geral são bem absorvidos por via oral, mas
sofrem metabolização de primeira passagem. Apresentam significativa
ligação proteica plasmática. A metabolização é hepática e a eliminação é
urinária.
Clínica da Intoxicação Aguda: SNC: rigidez e espasmos
musculares, pseudoparkinsonismo, distonias, acatisias, discenisia tardia
persistente, agitação ou depressão, cefaléia, confusão, vertigem,
síndrome neuroléptica maligna. SCV: hipotensão ortostática,
prolongamento do intervalo QT, taquicardia. Hipertermia.
Tratamento: Em geral é
semelhante ao realizado nas demais intoxicações agudas por neurolépticos
e descrito com maiores detalhes na intoxicação por fenotiazínicos.
ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS
Antidepressivos tricíclicos (ADT) tem potente efeito sedativo. Uso amplo
em depressão melancólica e em alguns casos de depressão atípica. São
exemplos de ADT: amitriptilina (Tryptanol, Limbitrol), amineptina
(Survector), imipramina (Tofranil), nortriptilina (Motival). São
rapidamente absorvidos por via oral, com elevada união a proteínas
plasmáticas. Metabolismo hepático, eliminação renal em vários dias.
Efeitos Adversos: Tontura, prejuízo
na função cognitiva, fraqueza, fadiga, precipitação de psicose ou mania,
tremores, apetite aumentado, ganho de peso, sudorese, cafaléia, boca
seca, constipação, retenção urinária, visão borrada, exacerbação de
glaucoma.
Clínica da Intoxicação Aguda:
Letargia, coma ou convulsões, acompanhadas por prolongamento do
intervalo QRS ao ECG. Excitação seguido de coma, com depressão
respiratória, hiporreflexia, hipotermia e hipotensão. Marcantes efeitos
anticolinérgicos.
Tratamento: Complexo.
Lavagem gástrica, seguida de carvão ativado em uso repetido e catártico
salino. Não induzir êmese pelo risco de convulsões. Tratamento
sintomático e suportivo. Alcalinização, anticonvulsivantes
(Fenitoína). Observação mínima de 6 horas em todos os pacientes.
ANTICONVULSIVANTES
BARBITÚRICOS
Depressores não seletivos do SNC, deprimem córtex sensorial, reduzem
atividade motora, alteram função cerebelar. Ação, principalmente quando
associada, com capacidade de potenciar ação inibitória sináptica mediada
pelo GABA.
Barbitúricos não possuem efeito analgésico.
Induzem desde excitabilidade, sedação leve, incoordenação motora até
coma profundo. Em dose terapêutica alta ocorre anestesia. Uso continuado
pode causar tolerância e dependência.
Divididos em três grupos, de acordo com o aparecimento e duração dos efeitos: - Duração curta: Pentobarbital, Secobarbital; - Duração Intermediária: Amobarbital, Butabarbital; - Duração longa: Fenobarbital, Mefobarbital, Prominal.
Clínica da Intoxicação Aguda:
Depressão do SNC e cardiovascular, coma. SNC: sonolência, letargia,
confusão, delírio, dificuldade de fala, diminuição ou perda dos
reflexos, ataxia, nistagmo, hipotermia, depressão respiratória. SCV:
hipotensão, taquicardia, choque. Gastrointestinal: diminuição do tônus e
motilidade, pode compactar comprimidos. Óbito por insuficiência
cardiorespiratória ou secundária a depressão de centros medulares
vitais.
Tratamento: Nos casos
graves é complexo. Assistência respiratória, manter vias aéreas.
Monitorização respiratória e cardiovascular. Corrigir
hipovolemia. Ingesta/esvaziamento gástrico: êmese só
em poucos minutos após ingesta. Lavagem gástrica com intubação (previne
aspiração) até 24 horas ou mais, lavado pode ser feito com sonda mais
larga ou por endoscopia para remover conteúdo. Carvão ativado seriado,
catártico salino. Manter equilíbrio hidroeletrolítico, pode ser
necessário uso de vasopressores. Alcalinização urinária. Avaliar função
renal, eletrólitos, gasometria, pH urinário. Paciente com insuficiência
renal necessário hemodiálise. Medidas sintomáticas e de manutenção.
CARBAMAZEPINA
Anticonvulsivantes com discretos efeitos sedativos, utilizado no
tratamento de neuralgia do trigêmio. Absorção lenta e errática por via
oral, há diminuição da motilidade intestinal decorrente das propriedades
anticolinérgicas do medicamento. Metabolizada no fígado, excretada pela
urina e pequena excreção fecal. A utilização prolongada do medicamento
pode ocasionar reações colaterais e secundárias variadas: diplopia,
distúrbios visuais, sonolência, parestesias, distúrbios de equilíbrio,
leucopenia, neutropenia, erupções cutâneas e outros.
São exemplos de nomes comerciais: Tegretol, Tegretard.
Clínica da Intoxicação Aguda:
Distúrbios neurológicos por depressão do SNC: ataxia, nistagmo,
oftalmoplegia, midríase, taquicardia sinusal. Casos graves podem evoluir
com mioclonias, convulsões, coma e parada respiratória.
Tratamento: Nos casos de ingestão
recomenda-se esvaziamento gástrico, que deve ser realizado mesmo
decorridas muitas horas após. É preferível lavagem gástrica em serviço
bem equipado, em virtude de possível e inesperado aparecimento de
depressão neurológica. Administração seriada de carvão ativado a cada 4
horas. Tratar convulsões com diazepam, manter via aérea permeável,
ventilação assistida, se necessário, tratar arritmias. Tratamento da
hipotensão arterial com correção do volume e drogas vasopressoras
(dopamina, norepinefrina). Filtro de carvão ativado pode ser útil nos
casos graves que não responderem ao tratamento de suporte. Não há
antídoto específico. Diurese forçada, diálise peritonial e hemodiálise
não são eficazes. Pacientes assintomáticos devem ser observados por no
mínimo 6 horas após ingesta. Pacientes graves devem ser observados em
UTI até 24 horas após terem se mantido estáveis.
FENITOÍNA
Fenitoína ou difenilidantoína é medicamento usado há longo tempo como
anticonvulsivante e mais recentemente, por via parenteral, no tratamento
de distúrbios do ritmo cardíaco. Absorção por via oral é lenta e
errática e quando ingerida em grandes doses, pode ser mais demorada.
Metabolização hepática e excreção renal.
Exemplos de nomes comerciais: Epelin, Fenitoína, Dialudon, Hidantal.
Clínica da Intoxicação Aguda:
nistagmo, que inicialmente é horizontal e a seguir vertical; sonolência
de intensidade progressiva, ataxia, diplopia, disartria, tremores,
distúrbios do comportamento, confusão mental, náuseas, vômitos e
hirsutismo. Coma profundo não é comum. São consideradas reações de
hipersensibilidade: eritema multiforme, síndrome de Stevens-Johnson,
febre, doença do soro, discrasias sangüíneas e insuficiência renal.
Descrevem-se também reações paradoxais, com aumento das convulsões sem
outros sinais de intoxicação aguda.
Toxicidade cardíaca freqüente após infusão
intravenosa rápida ou ingestão de doses muito grandes: arritmias e
bradicardia sinusal, fibrilação atrial, bloqueio incompleto de ramo
direito e hipotensão arterial. Casos mais graves: fibrilação ventricular
e assistolias, evoluindo para óbito.
Tratamento: Ingestão: Esvaziamento
gástrico mesmo decorridas várias horas. Paciente torporoso: lavagem
gástrica em serviço bem equipado. Administrar carvão ativado. Medidas
dialisadoras não encontram justificativa. Possível eficácia da
plasmaferese. O tratamento é essencialmente sintomático e de suporte,
incluindo correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e assistência
respiratória e cardiocirculatória.
ÁCIDO VALPRÓICO
Ácido valpróico e Valproato de sódio são medicamentos sintéticos não
relacionados quimicamente à maioria dos anticonvulsivantes. Exemplos de
nomes comerciais: Depakene, Valpakine, Valprin.
Absorção por via oral é rápida, observando-se níveis
máximos sangüíneos 1 a 4 horas após ingestão. Ligação proteica
significativa. Metabolização hepática e excreção renal.
Clínica da Intoxicação Aguda:
Distúrbios neurológicos incluindo confusão mental, sonolência, torpor e
coma. Hiperatividade, movimentos mioclônicos e convulsões. A evolução
fatal, embora excepcional, pode ocorrer por depressão respiratória e
parada cardíaca.
Tratamento: Ingestão: Esvaziamento
gástrico e administração de carvão ativado. Tratamento sintomático e de
suporte. Não há indicação para medidas dialisadoras. Possíveis bons
resultados da Naloxona, mas indicação é discutível.
Intoxicação Crônica: Descreve-se uma
associação entre o uso crônico de ácido valpróico com o desenvolvimento
de hepatotoxicidade e Síndrome de Reye. Os distúrbios hepáticos são
evidenciados por uma simples elevação dos níveis de transaminases sem
sintomatologia, até um quadro característico de Síndrome de Reye, com
necrose hepática centrolobular, hiperamoniemia e encefalopatia. Descrita
também hepatite tóxica fulminante e irreversível, sem sintomatologia da
Síndrome de Reye. Admite-se que crianças com menos de 2 anos,
especialmente as submetidas à terapêutica anticonvulsivante múltipla,
incluindo ácido valpróico, apresentam maiores riscos de desenvolver
lesão hepática. O tratamento, além da interrupção da droga, é
sintomático e de suporte.
DESCONGESTIONANTES NASAIS E SISTÊMICOS
DESCONGESTIONANTES NASAIS
Os descongestionantes nasais tópicos que apresentam riscos de
intoxicação aguda são geralmente constituídos por um simpatomimético em
apresentação isolada ou associada com anti-histamínicos e antibióticos.
Utilizados como vasoconstritor para reduzir edema e congestão de mucosas
nasal e ocular. Uso deve ser controlado em hipertensos, diabéticos e
pacientes com hipertireoidismo. Uso crônico causa congestão de rebote em
mucosas.
Os simpatomiméticos mais comuns são: oximetazolina
(Afrin); fenoxazolina (Aturgil); nafazolina, tirotricina (Efedran,
Nasoinstil);cloreto de sódio, benzalcônio (Rinosoro, Sorinal, Nasoflux,
Sorine); nafazolina, difenidramina, neomicina (Penetran, Alergotox
Nasal, Suspirin);outros.
Clínica da Intoxicação Aguda:
A intoxicação aguda pode ocorrer por ingestão ou pela aplicação nasal
de doses excessivas. Intoxicação por nafazolina, que é a mais freqüente:
náuseas, vômitos, cefaléia, rubor de pele, sudorese, irritabilidade,
inquietude, aumento da pressão arterial, distúrbios cardíacos como
extra-sístoles e outras arritmias podem aparecer. Casos graves:
depressão do SNC, hipotermia, bradicardia, dilatação pupilar, sonolência
e coma; distúrbios respiratórios com respiração irregular ou bradipnéia
com períodos de apnéia. Descritos em lactentes pequenos, quadros
aparentemente de hipersensibilidade em que pós aplicação tópica de doses
normais do medicamento observam-se durante algumas horas sonolência,
letargia e respiração lenta.
Tratamento: Sintomático e
de suporte. Esvaziamento gástrico/lavagem gástrica não é útil devido à
rápida absorção do medicamento e apresentação disponível é líquida.
Carvão ativado em ingesta precoce (discutível). Não provocar êmese pelo
risco de depressão do SNC. Monitorização dos sinais vitais. Suporte
ventilatório e hemodinâmico. Pode ser usada Naloxona. Casos graves: UTI
para controle dos distúrbios cardiovasculares e respiratórios.
DESCONGESTIONANTES SISTÊMICOS
São também chamados de antigripais, são produtos de largo uso popular
para tratamento de resfriados, gripes e infecções de vias aéreas
superiores. Apesar de composição variada, a maioria inclui , na fórmula,
simpatomiméticos e anti-histamínicos.
São alguns exemplos de descongestionantes sistêmicos e
seus principais componentes: triprolidina, psedo-efedrina (Actifedrin);
pirilamina, cloridrato de efedrina ( Benegrip); clorfeniramina,
Vitamina C (Benegrip Xarope Infantil);clorfeniramina, metoxifenamina
(Cheracap); cinarizina, fenilefrina, pentoxiverina (Coldrin);
dextroclorfeniramina, cloridrato de fenilefrina (Coristina D);
cloridrato de fenilefrina, carbinoxamina (Gripenil); maleato de
dimentideno, trivietilrutina, Vit C, paracetamol, cloridrato de
fenilefrina (Trimedal); (Bialerge); (Descon); (Naldecon).
Intoxicação freqüente, principalmente em
crianças, por largo uso e falsa impressão de inocuidade. Apesar da
dosagem relativamente baixa dos componentes, podem ocorrer intoxicações
graves. Relatados casos de abuso para obtenção de efeitos psíquicos e
sensoriais. Absorção irregular pelo trato gastro-intestinal, metabolismo
hepático e intestinal, excreção renal.
Clínica da Intoxicação Aguda:
Quadro tóxico depende da composição relativa dos simpatomiméticos e
anti-histamínicos. Os distúrbios produzidos por doses excessivas dos
principais componentes são os seguintes: sonolência, cefaléia, tonturas,
vômitos, taquicardia ou bradicardia, palpitação, bloqueio A-V,
hipertensão arterial, tremores, distúrbios neuropsíquicos incluindo
inquietude, irritabilidade, agressividade, confusão mental, convulsões,
alucinações e até quadros paranóides.
Tratamento: Nos casos de ingestão,
recomenda-se esvaziamento gástrico, mesmo decorridas várias horas, pois a
maioria dos descongestionantes sistêmicos contêm anti-histamínicos e
devido ao seu efeito anticolinérgico, podem retardar a absorção.
Administrar carvão ativado, catárticos salinos. Manter vias aéreas
permeáveis. Tratar hipertensão e arritmias, monitorar sinais vitais e
realizar ECG por 4 a 6 horas após intoxicação. O tratamento é
sintomático e suportivo. Bradicardia pode ser tratada com atropina.
Ectopias ventriculares são melhor tratadas com propranolol, devendo-se
evitar quinidina e antiarrítmicos da mesma classe.