segunda-feira, 2 de junho de 2014

Metade de nós toma remédio de forma errada. Saiba como evitar

Ingerir adequadamente seu medicamento é extremamente importante

 
A essa pergunta prosaica - você sabe tomar remédio? -, as respostas parecem ser mais simples ainda. Afinal, quem é que nunca tomou um remédio com leite, um suco, um café ou outro líquido “inofensivo”? Pois esse ato normal para muitos é mais preocupante do que se imagina (leia mais na página 5). O medicamento pode sofrer muitas alterações e, consequentemente, seus efeitos ficam prejudicados se não for ingerido da forma correta. Mais de 50% de todos os medicamentos são receitados ou vendidos de forma inapropriada, e metade de todos os pacientes não os tomam corretamente.
 
A afirmação está em nota da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o uso indevido de medicamentos.  Segundo a agência da ONU, o uso excessivo, limitado ou impróprio de remédios afeta a saúde das pessoas e gasta recursos. 
 
Os problemas mais comuns provocados pelo uso indevido de remédios incluem o uso de muitos medicamentos de forma simultânea, o uso excessivo de antibióticos e injeções e automedicação inapropriada. Segundo a OMS, os fatores que mais contribuem para esse fenômeno são a falta de conhecimento e formação, promoção de medicamentos por multinacionais farmacêuticas e a disponibilidade ilimitada de remédios em muitos países. 
 
Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que todos os remédios devem ser acompanhados da bula do paciente além da bula técnica dos produtos. Na bula do paciente, deve ser especificada a forma correta de como ingerir, e os riscos das interações/reações de forma clara e objetiva. 
 
No entanto, ainda existem muitas dúvidas de como tomar uma medicação. E muitas pessoas sequer têm o cuidado de ler bula. 
 
Crenças populares
 
Além disso, os brasileiros são recordistas em automedicação e adoram passar uma receitinha de remédios, não é mesmo? Com isso concorda Maria Esgotti, diretora do Conselho Regional de Farmácia (CRF) - Seccional Bauru. “Existem crenças tão comuns que sequer são colocadas em dúvida”, lembra ela, para acrescentar: “E muitos desses hábitos podem não só interferir na eficácia do medicamento, como também prejudicar nosso organismo.  Por isso, deve-se sempre ter muito cuidado com as medicações, seguir as orientações médicas e tirar dúvidas com o farmacêutico”.
 
São delas as informações a seguir, para que “ possam ajudar, que o medicamento ingerido tenha a eficácia terapêutica desejada e esperada, tanto para o paciente como seus familiares”. Confira:
 
Tomar medicamento acompanhado de outros tipos de líquidos é correto?
“O líquido mais indicado para acompanhar a ingestão de todos os tipos de medicamentos orais é a água, que não apresenta nenhuma reação com o principio ativo do medicamento. Bebidas como leite, refrigerantes, chás, café, entre outras, podem comprometer a absorção alterando a eficácia terapêutica.”
 
Pode-se ingerir o comprimido sem água?
“A ingestão de medicamentos orais (comprimido/cápsulas) sem água, é prejudicial e não recomendada, pois pode aderir à mucosa e causar irritações, e não ser absorvido adequadamente.”
 
 
Abrir as cápsulas e triturar os remédios, pode?
“Outro problema que encontramos também enquanto farmacêuticos é que certos pacientes não conseguem ingerir os comprimidos ou cápsulas e optam por macerar ou retirar das cápsulas, no entanto os medicamentos devem ser ingeridos em suas formas farmacêuticas integras, para que tenha sua eficácia terapêutica desejada e não traga lesões na mucosa esofágica ou gástrica. Mas se o paciente tiver dificuldade de ingerir deve informar seu médico, pois existem fórmulas  farmacêuticas manipuladas, em solução ou  xarope (com e sem açúcar) para muitos medicamentos.” 
 
 
Para gotas e líquidos não é preciso água, certo?
“Sim. Os medicamentos na forma farmacêutica gotas, podem ser pingados direto na boca, pois muitos são adicionados de sabores, para crianças ou adultos não ter tanta aversão quando na necessidade da ingestão. Geralmente as medicações pediátricas (gotas, xaropes ou suspensões) já são fabricadas com sabor e aroma diferentes para facilitar a ingestão.”
 
Antibióticos podem ser ingeridos com leite? 
 
“Não. Antibióticos quando ingeridos provocam um certo desconforto gastrintestinal (acidez, diarreia e dor abdominal). Se tomados com leite este desconforto pode aumentar, provocando vômito e piorar a diarreia. Portanto, se a criança ou adulto estiver tomando algum antibiótico e apresentar quadros descritos como este, o médico ou farmacêutico pode orientar quanto à melhora destes sintomas.”
 
Antiácido ajuda?  
 
Muita gente, para diminuir o  desconforto gástrico do medicamento, associa o remédio a um antiácido e isso não é válido. “A administração de antiácidos com outros medicamentos é bastante complexa, pois estes agentes alteram o pH gástrico e podem aumentar ou diminuir a absorção dependendo do tipo de antiácido (alumínio - Al, magnésio - Mg, cálcio - Ca ou hidróxido)  e do medicamento ingerido.”
 
O horário é fundamental?
 
“Devemos estar atentos ao horário da administração e quanto à quantidade de dias que foi receitado ou prescrito pelo médico, principalmente, antibióticos. Existem muitas bactérias resistentes a determinados antibióticos e isto se deve ao não cumprimento das regras estipuladas no momento da administração. Portanto, se queremos restabelecer nossa saúde no mais curto espaço de tempo, temos que seguir corretamente as prescrições médicas e as orientações farmacêuticas.”
 
Efeitos colaterais são comuns? O que fazer?
 
Alguns medicamentos podem, sim, provocar efeitos colaterais como alergias, náuseas, vômitos, diarreia, entre outros. Mas antes de suspender a medicação por qualquer efeito apresentado, devemos imediatamente procurar uma orientação do médico, pois ele terá como fazer alteração quando ao medicamento prescrito, ou se não puder alterar a prescrição, poderá prescrever outro medicamento que trará a melhora dos efeitos apresentados.”
 
Café não é água, não!
 
Alguns medicamentos podem aumentar os efeitos do café e de outras bebidas com cafeína. Alguns antidepressivos, antibióticos e anticoncepcionais bloqueiam uma enzima conhecida como CYP1A2, que ajuda a metabolizar a cafeína. Como resultado, a cafeína pode persistir no organismo por várias horas mais que o normal. Estudos demonstram que vários medicamentos, desde antidepressivos, para tireoide e osteoporose, podem ser afetados pelo consumo excessivo do café. 
Estudo também mostra, por exemplo, que mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais ficam com cafeína em seu organismo quatro horas a mais do que as mulheres que não tomam pílula. “Ou seja, café não é água, não”, lembra Maria Esgotti.
 
Atenção especial para as seguintes associações:
café + levotiroxina: redução de até 55% da absorção (tireoide).
café + alendronato: redução de 60% da absorção (osteoporose).
 
Casos reais, problemas sérios
 
Mesmo com tanta informação disponível nos dias atuais, a maioria das pessoas continua achando que não faz mal tomar um “remedinho indicado por um amigo”, que não há problema em tomar um “simples” antitérmico com um gole de cerveja, ou que é bobagem essa história de seguir à risca os horários para a ingestão de antibióticos.
 
A reportagem colheu depoimentos de pessoas que tiveram problemas diversos, desde a ingestão errada de remédios, até um caso grave que levou uma criança à internação hospitalar após a administração equivocada de um medicamento ao qual ela era alérgica. As identidades delas foram preservadas para evitar constrangimento.
 
Sobre a associação de remédios com bebida alcoólica, a diretora do CRF Maria Esgotti é taxativa: atitude proibida. “Quando o paciente faz isso, diminui a capacidade metabólica do fígado”, ressalta. 
 
Medicamento para a pressão causa “tosse crônica”
 
Por mais de um ano ela sofreu uma “tosse crônica”. Todos os dias chegava para trabalhar e já, já, aquela tosse chata perturbava os colegas de trabalho. Sofria com as gozações, “tinha gente que dizia que eu não comeria castanha naquele final de ano”. Perambulava de médico em médico. Raio X do tórax, ressonância magnética, tudo dava negativo. Após uma dezena de consultas e uma centena de anti-alérgicos tomados, por acaso, uma enfermeira perguntou que tipo de remédio para pressão alta ela estava tomando. A moça sugeriu que ela falasse com o médico e trocasse a receita por já ter visto pessoas que desenvolveram essa tosse ao medicamento. “Antes mesmo que eu marcasse outra consulta, resolvi fazer o teste e voltar ao remédio anterior, porque a data da tal tosse coincidia com a da medicação. Não deu outra. Minha tosse sumiu”.
 
Hora certa, mas associação errada: Remédio que deveria ser tomado em jejum não fazia efeito
 
Um cansaço repentino, profundo, dores musculares associadas a um leve aumento de peso tiraram o sono de um executivo que, corintiano fanático, prestou atenção nos sintomas do então jogador Ronaldo, que havia descoberto estar com problemas na tireoide. “Tudo batia com a doença do Ronaldão”, lembra ele, e o exame de sangue demonstrou que ele tinha “hipotireoidismo”. A médica foi taxativa. O remédio tinha que ser tomado cedo em jejum, pelo menos 30 minutos antes do café. “É o medicamento de cabeceira: você acorda, toma o remédio ainda dormindo, cochila mais um pouco, ou não, vai tomar banho, etc e só depois tomar seu café”. 
 
Por quatro meses ele cumpriu essa rotina. E nada: os sintomas e o cansaço permaneciam. Pesquisando com a médica, descobriu que ele associava a outro medicamento que era para ser tomado em jejum também, um protetor gástrico. Resultado: o da tireoide não fazia o efeito necessário. Um anulava o outro.
 
“Descobri que eu não poderia ter feito aquela associação, tomar dois diferentes. Hoje eu tomo o da tireoide primeiro, durmo, tomo o gástrico, faço uma caminhada leve e só então tomo o café da manhã. Estou ótimo. Tenho outra disposição”.
 
Automedicação: Hipotermia leva criança à internação
 
A filha era asmática desde pequena. A mãe sabia. E sempre se deu bem com determinada marca de antitérmico + anti-inflamatório e inalações e anti-alérgicos. Por volta dos 6, 7 anos, as crises pareciam estar estabilizadas. De repente ela passou mal na escola. Teve febre. Naquele dia a mãe não estava. Uma tia foi buscá-la. Passaram pela farmácia e ela tomou um antitérmico comum à base de ácido acetilsalicílico, e como a garganta estava vermelha, uma pastilha com anti-inflamatório. Resultado: em questão de minutos a temperatura da menina baixou, ela ficou roxa e foi preciso ser internada com uma crise severa de hipotermia.
 
A tia da garotinha não sabia que ela era alérgica àqueles medicamentos e que, combinados, poderiam resultar em grave risco. “Ficou a lição”, conta a mãe da menina. “Além do susto na minha irmã. Hoje sempre dou conselho: não mude de marca. Não mudo mesmo. Só ajusto a dose se for indicação do médico. Não existe uma marca melhor que a outra. Todas são boas. Mas conseguiu resolver o problema com uma determina marca? Fique com ela. Porém, não indique para ninguém.”
 
Coquetel fulminante
Remédio com bebida alcoólica é uma mistura perigosa?
“Antes de fazer qualquer consideração em relação à pergunta, a resposta sem dúvida é SIM, pois o fígado é o órgão que metaboliza tanto os medicamentos quanto o álcool. Quando o paciente bebe fazendo uso de qualquer medicamento, seja ele de uso esporádico ou contínuo, a capacidade metabólica do órgão diminui. Desta forma, é comum o paciente ter alguns sintomas típicos de intoxicação hepática”,  esclarece a dirigente farmacêutica Maria Esgotti. Acompanhe o quadro com as principais reações dessa mistura:
 
álcool + antidepressivo ou ansiolíticos (medicamento depressor do sistema nervoso central - os famosos calmantes): pode potencializar o efeito do álcool, causando letargia, piora dos reflexos, alucinações, desatenções, confusão mental, depressão respiratória, podendo levar ao coma e, se não socorrido a tempo, levar à morte. 
 
álcool + anti-histamínicos (antialérgicos): aumenta o efeito sedativo, podendo causar sonolência, tontura e desequilíbrio.  
 
álcool + antibiótico: aumento dos efeitos colaterais, perigo quanto à resistência bacteriana devido à diminuição da absorção.
 
álcool  + insulina: esta combinação pode provocar hipoglicemia (baixa de açúcar no sangue).
 
Fonte: JCnet

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