Goiás é segundo Estado em concentração de estabelecimentos e ainda há espaço para crescer mais, segundo entidades do setor
Em
uma esquina uma farmácia, logo em frente, outra. A concentração chama
atenção de quem não está acostumado a frequentar as principais avenidas
das Regiões Sul e Central de Goiânia. Goiás é o segundo Estado com maior
número de estabelecimentos por habitantes – perde para Santa Catarina –
e a capital possui um para cada 1,3 mil pessoas. No Brasil, a
distribuição é duas vezes menor. Mas não há problema com isso, segundo
as entidades que representam o setor. A cidade possui números próximos
às de mesmo porte.
A expansão segue com grandes redes, que muitas vezes
enfileiram unidades em uma mesma via, e drogarias independentes. A
lógica é a de mercado, o que provoca discussão quanto à visão de uma
unidade de saúde meramente como comércio. Quanto mais farmácias, mais
prédios, hospitais e clínicas há por perto. Nos gastos do goianiense os
medicamentos estão em oitavo lugar, conforme o IPC Maps 2015, o que
também ajuda a entender os motivos de ainda haver espaço para novos
estabelecimentos.
“A percepção é visual, Goiânia é similar em números com
outras cidades de médio porte com até 2 milhões de habitantes”, afirma o
diretor de pesquisas do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o
Mercado Farmacêutico (ICTQ), Marcus Vinicius de Andrade. Ele reforça
ainda que não há normativas quanto a distância entre elas ou número
ideal. A Associação Brasileira de Redes de Farmácia e Drogarias
(Abrafarma) desmente que a Organização Mundial de Saúde (OMS) teria
recomendado um estabelecimento para 3,5 mil habitantes. Não existe
nenhuma recomendação.
Disputa acirrada
“Não sei se há farmácias demais no Brasil. Só sei que
só vão sobreviver as competentes. E não estou muito preocupado se uma
farmácia incompetente fecha”, observa o presidente executivo da
Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, que defende que a prestação de serviço à
população é o que deve determinar o número. Também sem normativa quanto
a distância entre elas, há mesma cultura e disputa acirrada pelo
consumidor em todo o País.
Por outro lado, Marcus Vinicius explica que há
diversidade na Região Metropolitana de Goiânia, em que existe no máximo
40 lojas de uma mesma rede, diferente de outras capitais, como
Fortaleza, em que uma mesma possui até 200 unidades. “A população,
segundo pesquisas, é dividida entre rede e estabelecimentos de bairro,
vai pela conveniência de estar perto de casa e pelo preço.” Este último é
o mais observado onde há mais opções. É assim para a aposentada
Terezinha Pereira da Silva, de 56 anos.
Na última quinta-feira, a reportagem a encontrou na
T-63, no Setor Bueno, quando entrava na quinta farmácia atrás do menor
preço. Por mês, são mais de R$ 500 somente com medicamentos. “Sou
hipertensa e sempre onde vou lembro de olhar os valores, já que tudo
subiu e o dinheiro é pouco.” Programas de fidelidade e desconto com
cartão também ajudam, já que em poucos metros há variação de até 100% (veja no quadro).
“Os preços até de analgésicos variam bastante, por isso sempre ando um
pouco antes de comprar”, conta a auxiliar de limpeza Keity Horrana, de
26 anos.
Sem crise
Os consumidores também procuram cosméticos e produtos
de higiene pessoal e são atraídos pela variedade de itens, o que aumenta
a frequência das compras e o tíquete médio, apesar de serem os
medicamentos isentos de prescrição médica os que representam maior
volume e faturamento. Assim, o setor está em franca expansão, pois
possui demanda e a promessa é crescer 10% este ano, mesmo com a crise
financeira, como aposta Marcus Vinicius, do ICTQ. “O mercado é um dos
poucos que cresce e até 2017 o Brasil pode ser o terceiro mercado
mundial.”
De acordo com estudo divulgado pela Abrafarma, o
faturamento em 2014 foi de R$ 32,39 bilhões em vendas. Desde 2010, o
crescimento foi de 90,34%. Já este ano as redes faturaram no primeiro
trimestre cerca de R$ 8,24 bilhões. Além disso, há também inaugurações. A
segunda maior rede presente em Goiás, a Pague Menos, chegou ao Estado
em 2006 e soma 31 lojas. Na última semana de maio, inaugurou cinco novas
lojas, quatro em Goiânia e uma em Aparecida de Goiânia. A mesma rede
instalou um centro de distribuição em Hidrolândia, onde foram investidos
R$ 80 milhões.
Mas há também diferentes públicos. “É interessante o
paradoxo de que há farmácias que investem em iluminação, layout,
ambiente quase de shopping, outras em locais mais rústicos para classe
C, D e E.” Marcus afirma que prateleiras mais simples para alguns
consumidores pode passar ideia de que os preços também são mais
acessíveis. Ambientes mais iluminados e maiores agradam outra classe
econômica.
"Não sei se há farmácias demais no Brasil. Só sei que só vão sobreviver as competentes.”
Sérgio Mena Barreto
Presidente executivo da Abrafarma