Compradoras
revelam negociação pelo WhatsApp. Remédios sem procedência podem trazer
sérios danos à saúde. Médicos ressaltam riscos
As
duas caixas de sibutramina chegaram de moto. O condutor que as trouxe
sequer tirou o capacete e, depois de receber o dinheiro, foi embora sem
muitas palavras. A cabeleireira Elaine Martins de Oliveira, de 29 anos,
afirma que comprou os remédios após indicação do vendedor por uma amiga,
há cerca de seis meses. Ela passou mal e hoje faz tratamento para
amenizar o que ela acredita serem consequências do uso do conteúdo das
caixas. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (Sbem)
confirma que tem conhecimento da venda clandestina de emagrecedores e
informa que a prática é perigosa.
Elaine fez o pedido pelo WhatsApp. “Nunca conversei
pessoalmente com ele (vendedor) e nem sei se é a mesma pessoa que veio
entregar. Mandei mensagem e poucos minutos depois ele me respondeu.
Combinamos o preço e ele trouxe aqui em casa. A única exigência era que o
dinheiro estivesse trocado.” A cabeleireira pagou 120 reais em cada
caixa do medicamento, que tinha a denominação de sibutramina, mas não
tem certeza do conteúdo. “Estava lacrado, mas não sei se o conteúdo
poderia ter sido alterado. Essas pessoas tem muita coisa pra cometer
fraudes e hoje percebo a loucura que eu fiz, que poderia ter custado
mais caro.”
Não há estimativa de quantas caixas ilegais são
vendidas, mas a prática pode levar à morte justamente pelo
desconhecimento de sua composição. Elaine se lembra que além dos
sintomas comuns, de boca seca, fadiga e mudança de humor, ela teve
tonturas e fraqueza, além de sentir os pés e as mãos sempre frios. “Era
muito estranho, mas relatava para minhas amigas e todas diziam que era
normal. Como estava emagrecendo rápido, continuei a tomar.” Hoje ela
deixou os medicamentos e engordou os 12 quilos perdidos nos dois meses
consumindo os comprimidos da caixa e ganhou mais seis quilos. “Hoje nem
sei se eram mesmo sibutramina ou qualquer coisa misturada.”
A estudante L.T.S. tem 26 anos e também comprou o
medicamento sem se consultar com um médico. Ela conta ter conseguido uma
receita falsa por 100 reais. “Eu queria muito comprar sibutramina e
queria comprar na farmácia porque tinha medo de comprar gato por lebre,
no caso dos clandestinos.” Ela disse que um colega do local onde estuda
indicou uma pessoa que conseguiria a receita. “Fiquei com medo de ligar,
falar sobre isso. Pedi e, não sei como ele arranjou, mas meu amigo me
trouxe a receita uma semana depois. Fui à farmácia e fiz uso por quase
um mês.” L. emagreceu seis quilos e desistiu depois de ler pela internet
a notícias de que uma jovem teria pulado de um prédio depois de sofrer
alucinações.
A mãe da jovem chegou a postar um desabafo na internet
questionando a venda clandestina desses remédios. A postagem foi
removida e a família não falou mais sobre o assunto. O laboratório
fabricante do medicamento também foi procurado e não respondeu à demanda
até o fechamento dessa edição.
Internet oferece o passo a passo
Mesmo
com a proibição pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
em 2011, da venda de medicamentos emagrecedores à base de anfetaminas,
esses produtos são facilmente encontrados na internet. Há anúncios de
venda sem receitas e o passo a passo para receber as caixas em casa. Em
um site, a caixa com 20 cápsulas de cloridato de anfepromona é oferecido
por 179 reais.
G.A.S. tem 26 anos, se arriscou e pagou pelo cartão.
“Há cinco anos, havia tomado o femproporex e tinha sido bom pra mim.
Como está proibido e não tinha outra forma, decidi comprar na internet.”
Ela afirma que ficou com medo da negociação, por saber da ilegalidade
da venda.
G. é estudante e critica a proibição. “Mesmo proibido,
quem quer, dá um jeito de conseguir. Defendo discussão com a população
sobre os riscos e o desenvolvimento de outras drogas para combater a
obesidade. Ser magro é uma imposição, nem todos conseguem resultados
satisfatórios com dietas e muita gente vai fazer o que puder para
alcançar um corpo aceitável na sociedade. É triste, mas essa é a
realidade de quem é apontado na rua como gordo.”
Médico endocrinologista, Nelson Rassi confirma que há
carência de mais medicamentos no mercado para ajudar os obesos no
emagrecimento. Apenas um inibidor de apetite, que atua no sistema
nervoso, que é a sibutramina, e o orlistat, que age apenas sobre as
enzimas pancreáticas que digerem a gordura são autorizados no País. Este
último consegue reduzir a absorção de até 1/3 das gorduras consumidas
na alimentação. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabolismo (Sbem), há estudos para disposição de mais medicamentos
desse tipo no mercado, mas ainda sem prazo para chegarem às prateleiras
das farmácias.
Fonte: O Popular
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