sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Banalização excessiva do medicamento

"Há banalização excessiva do medicamento"


No dia a seguir à oposição aprovar a prescrição de medicamentos por princípio activo (DCI) e a dispensa de fármacos por unidose, um dos temas que foi debatido na Tertúlia da Saúde do Meeting Healthcare Future (MHF), que decorreu na passada quinta-feira, dia 14 de Outubro, no Lagoas Park, foi a banalização do medicamento.

A tertúlia teve como conferencista o presidente do Conselho Directivo do Infarmed, Jorge Torgal, que dividiu a mesa de debate com João Silveira, vice-presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), Rui Cernadas, presidente do Conselho Científico do ACES Espinho/Gaia, e Almeida Lopes, presidente da Apifarma. A moderação da tertúlia ficou a cargo de José Antunes, médico e director do jornal Tempo Medicina.

“Um acesso tão facilitado ao medicamento tornou-o um bem de consumo”

“A diferença entre alimento, medicamento e veneno é a dose”, satirizou Jorge Torgal, para acrescentar que “hoje em dia consome-se medicamentos a mais”. “A população vê o medicamento de forma banalizada, por culpa dos médicos”, aponta o presidente do Infarmed, alertando que “o mercado de consumo de medicamentos vai muito além do medicamento curativo”, o que “tem um efeito perverso”.

“A utilização abusiva do medicamento é um problema social. Aliás, hoje em dia, se alguém não está a tomar pelo menos um medicamento, assume-se logo que alguma coisa não está bem”, comentou Torgal.

Para o presidente do Infarmed, o facto “de haver um acesso tão facilitado ao medicamento tornou-o um bem de consumo”.


“Há banalização excessiva do medicamento”

“Há banalização excessiva do medicamento”, concorda Almeida Lopes. “Estou completamente de acordo com o Dr. Jorge Torgal”, disse, acrescentando que “prova de que o medicamento está banalizado é que grande parte das pessoas não sabem sequer o nome do medicamento que estão a tomar”.

Para o presidente da Apifarma, medidas do Governo como a comparticipação a 100% de medicamentos para os pensionistas também contribuem para a banalização do medicamento. Para sustentar a sua opinião, conta uma história: “Um dia, estava numa farmácia e ouvi a conversa de duas senhoras. Uma dizia para a outra:

- Será que todos estes medicamentos são verdadeiros? Agora até os oferecem…

“A culpa é de quem é responsável pela política da saúde”


Já João Silveira concorda com a opinião dos colegas de tertúlia de que o medicamento está banalizado, mas não considera os médicos culpados da situação. “O aumento do consumo de medicamentos vem da banalização da prescrição. Mas não é o médico o culpado”, defendeu o vice-presidente da ANF. “A culpa é de quem é responsável pela política da saúde”, acusou, acrescentando que “pôr o medicamento fora da farmácia contribuiu em muito para essa banalização”.

“E agora querem embalagens sem preços, o que ainda vai ser uma maior bandalheira”, acrescentou”.

“Vou ao supermercado comprar comida para o cão e ao lado estão medicamentos à venda”


Rui Cernadas concorda que permitir a venda de medicamentos fora da farmácia levou à banalização. “Vejo medicamentos à venda em todos os cantos. Vou ao supermercado comprar comida para o cão e ao lado estão medicamentos à venda”, disse, lembrando que a Entidade Reguladora da Saúde devia prestar atenção a esta situação de banalização.

Também Almeida Lopes defende que devia haver um “quadro inspectivo” para controlar a venda de medicamentos em bombas de gasolina e em supermercados.

“Este é apenas um caso de abuso. Há mais”

Além da banalização do medicamento, os participantes na tertúlia apontaram outra situação preocupante no sector: o abuso. Como exemplo de abuso, o presidente do Infarmed apontou o caso dos antidepressivos, cuja portaria para comparticipação para doentes esquizofrénicos e bipolares teve se ser revogada: “Todos os doentes que iam comprar antidepressivos eram ou esquizofrénicos ou bipolares, e lá se foram 111 milhões de euros em antidepressivos”.

“Este é apenas um caso de abuso. Há mais”, acrescentou Torgal.

Rui Cernadas concordou que existe este abuso e disse: “A portaria tornou-se um carimbo de desconto”.

Já João Silveira considera que a portaria foi uma forma de o Governo “ganhar votos”.

Almeida Lopes diz que o problema foi o facto de que “esta foi mais uma decisão política que devia ter sido tomada por técnicos”.

2010-10-15 | 14:58 
fonte: http://www.rcmpharma.com/news/10224/51/Ha-banalizacao-excessiva-do-medicamento.html

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