Cesariana x cicatriz: existe solução? O número de cesarianas realizadas no Brasil tem superado o de partos normais. De acordo com o Ministério da Saúde, de 2010 para cá cerca de 52% dos partos nacionais foram cirúrgicos, mas qual a diferença entre um e outro? Sabemos que os benefícios dos partos normais são inúmeros, isso vai desde uma melhor recuperação da mulher até o vínculo estabelecido entre a mãe e o filho durante o parto. Já a cesariana requer cuidados com a recuperação, pode ocasionar sangramentos, infecções, além é claro das tão indesejadas cicatrizes.
Essas marcas podem tomar uma proporção muito maior do que conhecemos. Muitas mães não sabem que até mesmo o atrito da pele com a roupa pode prejudicar essa cicatriz levando a uma inflamação podendo se tornar uma quelóide (cicatriz espessa, elevada e de superfície lisa que ocorre somente na pele).
Muitos são os cuidados que a mãe deve ter após a cesária. Segundo o cirurgião plástico Bernardo Hockman, especialista em tratamento de cicatrizes e quelóides e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - SBCP, é preciso ter atenção com o repouso: "Esforços físicos precoces podem levar a aberturas parciais (ou até total) da cicatriz o que é chamado de deiscência dos pontos. Isso tudo porque a cicatrização pode levar em torno de 12 a 18 meses."
Veja abaixo as principais dúvidas sobre cicatrizes e quelóides esclarecidas por Bernardo Hockman:
Quais as principais complicações estéticas que uma cicatriz de cesárea pode apresentar? Em quanto tempo ocorre a cicatrização de uma cesárea?
A cicatrização da pele de uma cesárea ocorre entre 10 a 14 dias; entretanto, o processo de amadurecimento da cicatriz, ou seja, de atingir seu aspecto final e sua resistência a trações se prolonga por um período de 12 a 18 meses. As complicações de uma cesárea podem surgir por esforços físicos precoces das mamães, levando a aberturas parciais (ou até total) da cicatriz (chamada de deiscência dos pontos). Essas aberturas, se não corrigidas, geralmente resultam em defeitos estéticos como retrações cicatriciais (afundamentos localizados), que podem até causar dor em certos movimentos pela aderência (fibrose) da cicatriz cutânea nos músculos, e também podem deixar as cicatrizes mais alargadas. Essas aberturas ou esforços musculares precoces e excessivos também podem facilitar que a cicatriz da cesárea torne-se do tipo hipertrófica ou até com quelóide.
A cicatriz pode inflamar? O que ocasiona essa inflamação?
Qualquer cicatriz pode inflamar, inclusive de cesárea. Os fatores que podem levar a uma inflamação na cicatriz são "encravamento" de pêlos na cicatriz em formação (principalmente os pubianos no caso de cesáreas), reação inflamatória ao fio de sutura e esforços físicos precoces.
O que é cicatriz hipertrófica?
É uma cicatriz elevada decorrente de uma resposta cicatricial exagerada da pele a uma intervenção cirúrgica ou ferimento. Essa cicatriz não ultrapassa o trajeto ou a extensão da incisão ou ferimento inicial. Apresenta tendência à regressão. A cicatriz hipertrófica é sobrelevada em relação à pele, avermelhada e usualmente com coceira espontânea. A freqüência de cicatriz hipertrófica é, provavelmente, maior que do quelóide. A cicatriz hipertrófica pode ocorrer em qualquer idade, mas tende a se desenvolver mais freqüentemente na puberdade e adultos jovens, sendo mais rara em pessoas acima dos 60 anos de idade.
O que é o quelóide e quando acontece?
O quelóide é uma cicatriz espessa, elevada e de superfície lisa que ocorre somente na pele (e apenas em humanos). Se estende para os lados em relação à incisão cirúrgica ou ferimento inicial, formando verdadeiras nodulações na cicatriz. O quelóide ocorre em ambos os gêneros, embora com discreta predominância em mulheres. É mais comum em pessoas afro-descendentes (incluindo pardos ou mulatos) e em pessoas de origem oriental, embora também ocorra em pessoas brancas. Não existe quelóide espontâneo, e as lesões sem causa aparente são provocadas por ferimentos minúsculos não percebidos pelo paciente como pequenas espinhas; cicatrizes de catapora, furúnculos, feridas aberta que cicatrizaram sem que houvesse sutura, ou com infecção, também são causas comuns de quelóide.
O atrito promovido pela roupa pode prejudicar a cicatriz?
Sim, o atrito pode prejudicar uma cicatriz pela inflamação crônica que causa, e conforme a sensibilidade pessoal da pele. Esse fator inflamatório é agravado por roupas de tecido sintético como a base de poliéster ou microfibra, mas pode facilmente ser prevenido utilizando vestimentas de algodão ou linho. Em cicatrizes mais recentes de cesárea o uso de calcinhas de algodão torna-se obrigatório em todas as mulheres.
Caso a cicatriz apresente problemas o que a paciente deve fazer?
Na presença ou mesmo suspeita de que há algo errado na cicatriz você deve imediatamente procurar seu cirurgião, pois é o profissional mais apto a lhe ajudar e porque mais conhece você. No período pós-operatório mais recente (cerca de 15 dias), os sinais mais freqüentes que podem levantar suspeita são vermelhidão súbita na cicatriz ou na pele ao redor, com ou sem aumento da temperatura local, presença de gotas de qualquer tipo de líquido ou secreção saindo pela cicatriz, abertura de ponto(s) de sutura(s) ou parada de saída de liquido através de drenos quando houver. Os sintomas mais freqüentes são dor e/ou coceira excessiva. Mais tardiamente, a partir de 1 mês, você deve-se ficar mais atento a uma vermelhidão persistente da cicatriz, aumento do relevo da mesma, endurecimento do tecido embaixo da cicatriz (fibrose subcutânea), além de coceira persistente. As ocorrências desses fatores podem predizer a evolução para uma cicatriz hipertrófica ou eventualmente até quelóide. Fique atenta!
Quais os tratamentos disponíveis para tratar cicatrizes?
Como o mecanismo biológico que causa a formação de cicatrizes hipertróficas e quelóide ainda não está completamente esclarecido, os tratamentos ainda não são totalmente específicos. Ao contrário do quelóide onde o tratamento cirúrgico, sempre que possível, é a opção mais indicada, nas cicatrizes hipertróficas a retirada cirúrgica não é a primeira opção. E, para isso, dispõe-se de recursos, além dos tradicionais métodos de compressão elástica contínua por um período de 10 a 16 horas por dia por determinado tempo. O quelóide que está em fase de atividade clínica, ou seja, quando se apresenta avermelhado, com coceira e/ou dor, e/ou crescimento não deve ser operado. Nessa situação, a probabilidade da formação de um novo quelóide é muito alta, mesmo quando realizados outros tratamentos complementares à operação. Por isso, é mais conveniente aguardar uma fase de menor atividade ou de inatividade clínica para retirá-lo, ou seja, quando a lesão parar de crescer e não apresentar coceira ou dor. Para isso, orientamos o paciente a utilizar medidas para amenizar o desconforto, como aplicação de corticóide ou compressão elástica. Contudo, atualmente dispomos de outros recursos tecnológicos para encurtar a fase de atividade clínica, como laser de baixa potência ou eletroterapia, dentre outros, para o tratamento cirúrgico ter mais chance de ser bem sucedido.
O que é betaterapia?
A betaterapia consiste em irradiar muito superficialmente a nova cicatriz da retirada cirúrgica de quelóide, por meio de uma placa radioativa contendo átomos de estrôncio. A aplicação da betaterapia geralmente é iniciada após 24 a 48 horas da cirurgia. Esse procedimento visa diminuir a formação de fibras colágenas, que é a base do "cimento da cicatriz", e que está muito aumentado no quelóide.
Quando a infiltração é indicada e quais são as suas contra-indicações?
A infiltração (injeção intralesional de corticóide, ou seja, injetar o medicamento dentro de um tecido ou lesão) é indicada no quelóide em atividade clínica (vermelhidão, coceira, dor ou em crescimento). O corticóide de escolha chama-se acetonido de triancinolona. A infiltração é contra-indiciada em quelóide inativo (atrofiado e sem sintomas), ou que apresentem ulcerações com ou sem infecção associada, e em quelóide com excesso de "vasinhos" (telangectasias).
A infiltração tampouco deve ser realizada em cicatriz hipertrófica, porque o corticóide afrouxando intensamente o grau de compactação das fibras de colágeno pode causar alargamento da cicatriz, resultando numa cicatriz mais plana, porém espraiada e de aspecto atrófico e inestético.
As pomadas com corticóide são usadas com muita frequência. Existem contra-indicações?
Outrora as pomadas com corticóide (antinflamatório esteróide) já foram muito utilizadas. Porém, esse tipo de pomada pode não diminuir a espessura da cicatriz e causar um afinamento da superfície (epiderme) da cicatriz hipertrófica e do quelóide; com isso, após um período de uso superior a 1 mês, as cicatrizes costumam ficar muito avermelhadas e com a presença de pequenas e inestéticas veias ("vasinhos"). Atualmente, como fruto das intensas pesquisas científicas e com o advento de novos recursos, deixou-se a pomada com corticóide como uma 2ª opção, apenas para os casos com intensa coceira, ou quando não for possível utilizar outro tipo de tratamento.
Muitos médicos recomendam o uso de uma fita de silicone para evitar problemas com a cicatriz. Como esse tipo de material pode colaborar no tratamento?
Independente de todos os tipos de tratamento até aqui citados para cicatrizes hipertróficas e quelóide, a fita de silicone deve ser aplicada, via de regra, nessas cicatrizes, e por isso é tão recomendada por muitos médicos. A oleosidade natural da pele, fabricada por glândulas sebáceas, é responsável, dentre outras funções, pela manutenção da hidratação da pele (chamada barreira cutânea ou epidérmica). As cicatrizes não possuem glândulas sebáceas, ou seja, são secas na sua superfície, independente do grau de oleosidade da pele ao redor. E, assim sendo, a água evapora continuamente através da cicatriz desidratando ainda mais o seu interior.
Para que exista maior aporte de água na cicatriz ocorre uma dilatação dos vasos sanguíneos locais; contudo, essa água também evapora pela ausência da camada oleosa, e a cicatriz permanece desidratada, avermelhada e, portanto, inflamada, além de inestética. Por isso, é essencial a utilização de fitas ou lâminas de silicone sobre essas cicatrizes, mantendo um nível contínuo e mais adequado de hidratação das mesmas. Entretanto, a utilização de fitas de silicone não deveria ser restringida apenas ao tratamento de cicatrizes patológicas, mas também na prevenção de quelóide após remoção cirúrgica. A fita de silicone também deve ser aplicada em qualquer cicatriz, inclusive normal, oriunda de qualquer tipo de intervenção cirúrgica. Com esse recurso, mesmo cicatrizes normais teriam seu período de avermelhamento encurtado, e a qualidade final da cicatriz seria muito melhor.
Quando e por quanto tempo a paciente deve utilizar essa fita?
O tempo de uso até o resultado varia de acordo com o tipo e idade da cicatriz. No quelóide e em cicatrizes hipertróficas a fita de silicone deve ser utilizada por um período longo, de muitos meses ou anos, conforme indicação do médico. Em cicatrizes normais as fitas deveriam ser utilizadas a partir do 1º ou 2º mês pós-operatório, ou a critério médico, e pelo menos até o amadurecimento final da cicatriz, que ocorre em média entre 12 a 18 meses após a operação, ou conforme indicação médica. Uma fita de silicone chamada Medgel deve ser utilizada entre 10 a 16 horas/dia, ou conforme indicação médica. A fita não incomoda e pode ser reutilizada após lavagem, devendo ser diariamente higienizada conforme orientações do fabricante.
Existe também uma pomada de silicone. Qual a diferença em relação a fita?
A pomada é recomendada para regiões que não tenham contato com as roupas ou em locais com dificuldade técnica em utilizar a fita, como no umbigo. Caso contrário, basta usar a versão em tira no local afetado.
Exposição ao sol pode piorar o aspecto da cicatriz?
A irradiação ultravioleta do sol é um agente fortemente agressivo à pele e pode acarretar transtornos durante o processo de cicatrização. Por isso, não se deve submeter a pele ao sol antes de uma intervenção cirúrgica. Essa irradiação também agride uma cicatriz, podendo predispô-la mais comumente a uma pigmentação (cicatrizes escuras), ou a uma despigmentação (cicatriz mais clara que a pele, principalmente em afro-descendentes), podendo desencadear cicatrizes hipertróficas quando há excessiva exposição dos raios solares.
A cicatriz não desaparece, mas existem pessoas que apresentam cicatrizes
menos aparentes. Quando isso acontece?
As cicatrizes são menos aparentes em regiões de pele mais fina (face e pálpebras), em regiões de pele submetidas à menor tração por contração muscular (face de dentro dos braços, nádegas), em pessoas com menor oleosidade na pele e em pessoas idosas (a pele é mais fina e ressecada).
fonte: Bonde o seu portal |
http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-34--12-20120105&tit=esclareca+quinze+duvidas+sobre+cicatriz+de+cesariana
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