quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Número de cursos de Farmácia cresce 343% na última década, mas mercado de trabalho ainda tem áreas em expansão

Saiba qual é o panorama do mercado de trabalho farmacêutico no Brasil e quais as conseqüências do aumento no número de cursos de graduação em Farmácia.



Atualmente, os egressos dos cursos de Farmácia no Brasil se deparam com um panorama bastante interessante, em relação ao mercado de trabalho. Uma pesquisa no site do e-MEC revela que existem 481 cadastros de cursos de graduação em Farmácia (dados de 2012), sendo que 81 (16,8% do total) desses são cursos gratuitos (instituições públicas) e 400 (83,2% do total) são cursos pagos (instituições privadas).

Em 2001 existiam cerca de 140 cursos, demonstrando um aumento de 343,6% num período de 11 anos. Em 1986 havia 35 cursos de Farmácia no Brasil, sendo que 20%  eram em instituições privadas e 80% em faculdades públicas. Verifica-se que em 26 anos, o número de cursos aumentou 1.374%, e o perfil das instituições (públicas e privadas) mantenedoras dos cursos se inverteu.

O aumento no número de cursos de graduação em Farmácia, consequentemente, lança no mercado de trabalho, muitos egressos. Apesar de sinais de saturação em muitas áreas, outras áreas de trabalho para o farmacêutico tem surgido e se mostram promissoras, tanto no setor público quanto no setor privado.

De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (CFF), o número de farmacêuticos no Brasil em 2010 era de quase 143 mil. Destes, 52.176 (36,5%) estão nas capitais, enquanto 90.665 (63,5%) farmacêuticos atuam no interior.

Em relação à oferta de vagas no mercado de trabalho privado, em 2010, o CFF registrou um total de 82.204 farmácias e drogarias, 7.351 farmácias de manipulação, 1.053 farmácias homeopáticas, 5.631 farmácias hospitalares, 5.993 laboratórios de análises clínicas, 532 indústrias farmacêuticas e 3.821 distribuidoras de medicamentos.

Nestas áreas, com exceção das análises clínicas e indústria farmacêutica, a função do farmacêutico é privativa, absorvendo a maior parte da demanda de recém-formados, o que gerou uma saturação em determinados tipos de serviço.

Em relação aos estabelecimentos públicos, em 2010, havia um total de 8.379 farmácias públicas registradas nos conselhos. O sistema público de saúde constitui, atualmente, num importante campo de trabalho para os profissionais de saúde.

De acordo com o IBGE, na década de 80, os serviços públicos de saúde empregavam, aproximadamente, 265.956 trabalhadores de nível superior. Em 2005, com o SUS já implementado, esse número passou para 1.448.749, demonstrando o vigor em sua implementação e a relevância do setor público.

Este campo de trabalho, representado principalmente pela Estratégia Saúde da Família (ESF), hoje em franca expansão, em todo o território nacional, busca ampliar a cobertura da população, assegurando um padrão de serviços compatível com a melhoria da qualidade de vida, com maior resolubilidade da atenção e garantia de acesso aos demais níveis do sistema.

O farmacêutico ganhou espaço na Estratégia Saúde da Família (ESF), sobretudo, a partir de 2008, com a publicação da Portaria n. 154/08 do Ministério da Saúde, que estabelece a criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), composto por profissionais de saúde que devem atuar de forma integrada à rede de serviços de saúde, a partir das demandas identificadas no trabalho conjunto com as equipes Saúde da Família.

Em 2011, o Projeto de Lei 2459 foi reapresentado na Câmara dos Deputados, para exigir a presença do farmacêutico em todos os locais onde ocorre dispensação de medicamentos, como as Unidades de Saúde do SUS. Esse Projeto de Lei altera a Lei n.5.991/73, se for aprovado, resultará em aumento significativo no número de postos de trabalho para os farmacêuticos.

Como forma de mostrar o apoio da classe farmacêutica e da população em prol da obrigatoriedade da presença do farmacêutico no SUS, foi criada uma Fan Page na rede social Facebook, cujo acesso pode ser realizado através do link: https://www.facebook.com/PL24592011aprovacaoja?ref=ts

Além disso, novas áreas de atuação para o farmacêutico se mostram promissoras, como a Farmacoeconomia, Farmácia Oncológica, Conduta Baseada em Evidências, Avaliação de Tecnologias em Saúde, Genética e Biologia Molecular, Bioinformática, Pesquisa e Desenvolvimento de Novos Fármacos, Docência, entre outras.

No entanto, a formação dos farmacêuticos para atuação no SUS e nessas novas áreas é desafiadora.

A atuação significativa do farmacêutico no NASF depende não apenas do seu conhecimento técnico sobre medicamentos, mas sobretudo, da sua competência de relacionamento interdisciplinar, de trabalho em equipes multiprofissionais, de acolher o paciente e realizar um trabalho humanizado, de suas habilidades de comunicação, da sua capacidade de gerenciamento e administração do trabalho, dos recursos e da informação. Estas são características pouco relacionadas com a química, a farmacologia e o controle de qualidade da matéria-prima, ou seja, que independem da qualificação técnica. Estas são características humanísticas, que devem estar presentes no trabalho de boas equipes de saúde e que exigem dos profissionais habilidades e atitudes proativas, em prol das necessidades dos pacientes.

No entanto, para atuação no SUS, o farmacêutico precisa se capacitar tecnicamente, bem como vivenciar as práticas de saúde pública desde o ensino na graduação. Os cursos de Farmácia devem oportunizar aos estudantes a aquisição de competências e habilidades que permitam a atuação do farmacêutico no SUS.

Existe a preocupação com a baixa qualidade dos cursos de graduação em Farmácia, agravada pela entrada de novos cursos, possivelmente com quadros docentes mal preparados e programas que não se embasam em pesquisa ou extensão. É verdade que a reforma do ensino farmacêutico, iniciada há pouco mais de dez anos no Brasil e que incorporou a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Farmácia, vem tentando modificar as normativas curriculares, para formar egressos tecnicamente mais preparados para a atuação na saúde pública.

No entanto, é um desafio para as instituições de ensino superior e para os demais órgãos de classe profissional a preparação adequada do farmacêutico para atuação no SUS. Mas é preciso superar os obstáculos, já que o SUS é um amplo mercado de trabalho, ainda em expansão.

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