18/1/2013 9:59
Por Redação, com BBC - de Nova York, EUA
Um estudo norte-americano está causando polêmica ao defender que o uso disseminado de medicamentos genéricos
anti-HIV nos EUA pode fazer com que mais pacientes tenham problemas em
seu tratamento. No artigo, publicado no Annals of Internal Medicine,
médicos do Hospital Geral de Massachusetts calculam que os medicamentos
genéricos, que logo estarão à disposição da maior parte dos pacientes
no mercado americano, podem representar uma economia de quase US$ 42.500
por paciente, mas também tendem a ser menos eficazes.
Um dos maiores problemas seria que o tratamento com genéricos nos EUA
exige que sejam tomados três comprimidos por dia, em vez de apenas um, o
que aumentaria o risco de que alguns pacientes percam doses.
Segundo os médicos americanos, isso faria com que cada paciente
tratado com genérico tenha em média 4,4 meses de vida a menos que os
tratados com medicamentos tradicionais.
Polêmica
Para a organização Aidsmap, responsável por divulgar informações
sobre HIV, porém, o modelo que serviu de base para a pesquisa é pouco
confiável. Um porta-voz da organização também levantou a preocupação de
que ela cause alarde entre pacientes sobre os genéricos, cujo uso
continua sendo apoiado pela Aidsmap.
Especialistas concordam que os antiretrovirais genéricos deram uma
grande contribuição para a contenção do HIV no mundo – particularmente
nos países em desenvolvimento. “O estudo não leva em conta o fato de que
são as patentes dos medicamentos que impedem que pacientes tenham
acesso a tratamentos mais simples e mais baratos (com genéricos)”, disse
Sharonann Lynch, assessora de políticas sobre HIV/AIDS do grupo Médicos
Sem Fronteira.
- Versões genéricas da combinação (das três substâncias do tratamento
anti-HIV) já existem em países em que patentes não bloqueiam seu uso
por US$200 por ano – menos de 1% do seu custo nos EUA. A assessoria de
comunicações do Ministério da Saúde brasileiro também ressalta que a
pesquisa foi feita com genéricos disponíveis nos EUA e seus resultados
são restritos ao país – só podendo ser avaliados por quem tenha um
entendimento amplo sobre os produtos e o funcionamento do mercado
americano.
Segundo o ministério, no caso do Brasil, já há genéricos que combinam
três medicamentos em uma única pílula e eles só entram no mercado após
passarem pelo teste de bioequivalência da ANVISA, que comprova que têm a
mesma eficácia.
Genéricos
Medicamentos genéricos são cópias mais baratas de remédios de grandes
farmacêuticas. Eles geralmente atuam da mesma maneira que os remédios
de marcas tradicionais e contêm os mesmos princípios ativos. O
tratamento recomendado para pacientes recém-diagnosticados com HIV nos
EUA é uma pílula que combina três antiretrovirais – tenofovir,
emtricitabina e efavirenz.
O genérico de um medicamento que atua de forma semelhante a
emtricitabina chegou ao mercado americano em janeiro de 2012 e um
genérico do efavirenz é esperado para breve. Logo, os pacientes
americanos poderão fazer um tratamento que combina essas duas drogas com
o tenofovir. “Esta é uma troca que muitos de nós achará difícil ou até
impossível recomendar por questões emocionais e éticas”, diz Rochelle
Walensky, pesquisadora-chefe do estudo.
Rochelle admite, porém, que para os pacientes propensos a seguir à
risca o tratamento com os três medicamentos, a opção entre o genérico e o
medicamento de marca seria mais complexa – já que a eficácia do
tratamento pode ser a mesma.
Dilema
Segundo Rochelle, a troca poderia ser mais aceitável se a economia
feita pelo com genéricos fosse redirecionada para outros aspectos do
tratamento, como o combate a hepatite C em pacientes que também
contraíram a doença.
Apesar das reações negativas de muitos médicos, para Jason Warrier,
da ONG britânica Terrence Higgins Trust, que apoia pessoas que
contraíram HIV, a pesquisa é oportuna. Ele diz que cerca de 7,000
pessoas são diagnosticadas anualmente com HIV no Reino Unido e o custo
de medicamentos está aumentando ano a ano.
- Com o sistema de saúde britânico sob uma pressão financeira sem
precedentes, a propagação dessa epidemia é um desafio não apenas de
saúde pública, mas para os recursos públicos – diz Warrier.
- Usar medicamentos genéricos seria um caminho para o serviço de
saúde reduzir suas despesas, mas isso não deve ser feito às custas da
saúde do paciente. Tudo o que compromete a eficácia dos medicamentos
anti-HIV, ou torna as pessoas menos propensas a manter seus tratamentos,
representa uma economia que não vale a pena.
Fonte: Correio Brasil
-saude/pesquisa-causa-polemica-ao-defender-uso-de-medicamentos-genericos-anti-hiv-nos-eua/571501/
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