terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Pesquisadores descobrem ingredientes de medicamentos de mais de 2.000 anos

Pastilhas de cor acinzentada foram encontradas em um navio naufragado na costa da Itália e acredita-se que eram utilizadas como colírios

Relitto del Pozzino
Fragmento do navio Relitto del Pozzino, que data de 140 a 130 a.C. (Cortesia Enrico Ciabatti)
Medicamentos de mais 2.000 anos tiveram sua composição estudada por pesquisadores das universidades de Pisa e de Florença, na Itália. As pastilhas foram encontradas em uma pequena vasilha fechada de metal, a bordo do navio Relitto del Pozzino, que naufragou na costa da Toscana há mais de dois milênios. O estudo foi publicado nesta segunda-feira no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

De acordo com os pesquisadores que analisaram o medicamento, as pastilhas acinzentadas e em formato de disco, com cerca de quatro centímetros de diâmetro e um de espessura, eram utilizadas como colírios, aplicadas diretamente sobre os olhos, em tratamentos de doenças oftalmológicas.

O navio Pozzino foi encontrado a 18 metros de profundidade no Golfo de Baratti, na Itália, perto das ruínas da cidade etrusca de Populonia. O navio naufragado foi descoberto em 1974 e as autoridades  arqueológicas da Toscana realizaram a primeira expedição aos destroços em 1982. As descobertas indicam que o navio data de 140 a 130 a.C., época em que Populonia era um ponto importante nas rotas de comércio marítimo entre o Ocidente e o Oriente.

As pastilhas foram encontradas próximas a frascos de madeira e outros objetos que indicam que um médico estava a bordo do navio, como uma vasilha de bronze que, pelo formato que possui, poderia ser utilizada para sangrias (tratamento que consistia na retirada de sangue do paciente) ou para aplicar ar quente para aliviar feridas.
 
Composição - Os pesquisadores utilizaram uma das pastilhas, que estava quebrada, para fazer análises químicas, minerais e botânicas, a fim de descobrir a composição do medicamento. Componentes inorgânicos correspondem à maior parte das pastilhas. Os elementos mais abundantes encontrados foram zinco (75%), silício (9%) e ferro (5%). Apesar de o componente ativo do medicamente nem sempre ser o mais abundante, é provável que os compostos de zinco sejam o princípio ativo das pastilhas do Pozzino, pois o zinco já era utilizado desde a Antiguidade no tratamento de doenças.

"Foi surpreendente descobrir a presença de compostos de zinco, os ingredientes mais abundantes das pastilhas, sabendo que eles são utilizados até hoje para o tratamento de doenças dermatológicas e oftalmológicas", disse Erika Ribechini, integrante do grupo de pesquisadores, ao site de VEJA.

Giachi et al
Pastilhas
Pastilhas encontradas no navio Pozzino

Além de apresentarem compostos de zinco em abundância, outro ponto que contribuiu para a identificação das pastilhas como medicamentos de uso oftalmológico foi o fato de que a palavra grega ҡоλλύρα, de onde se originou o termo collyrium, em latim, significa algo como "pequenos pedaços redondos". Isso mostra que a forma das pastilhas encontradas no Pozzino é coerente com o uso oftalmológico.    
            
Dentre os compostos orgânicos, foram encontrados grãos de amido, cera de abelha, resina de pinheiro, carvão vegetal e uma mistura de lipídios de origem animal e vegetal. Também foram identificados grãos de pólen e fibras de plantas, provavelmente de linho (Linum), planta cuja semente é a linhaça, utilizada na culinária. Como tais fibras não foram encontradas em outros medicamentos antigos, os pesquisadores acreditam que elas foram adicionadas para impedir que as pastilhas se partissem facilmente.

Grãos de amido foram encontrados em cosméticos de Roma, datados do século dois d.C.. Resinas de plantas eram amplamente utilizadas na medicina antiga. No caso das pastilhas do Pozzino, a resina de pinheiro pode ter desacelerado o processo de degradação natural, devido a propriedades antioxidantes, além de reduzir o crescimento de micro-organismos.

Fonte: Veja

Um comentário:

  1. -noticia/ciencia/pesquisadores-descobrem-ingredientes-de-medicamentos-de-mais-de-2000-anos

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