Pastilhas de cor acinzentada foram encontradas em um navio naufragado na costa da Itália e acredita-se que eram utilizadas como colírios
Fragmento do navio Relitto del Pozzino, que data de 140 a 130 a.C.
(Cortesia Enrico Ciabatti)
Medicamentos de mais 2.000 anos tiveram sua composição estudada por
pesquisadores das universidades de Pisa e de Florença, na Itália. As
pastilhas foram encontradas em uma pequena vasilha fechada de metal, a
bordo do navio Relitto del Pozzino, que naufragou na costa da Toscana há mais de dois milênios. O estudo foi publicado nesta segunda-feira no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
De acordo com os pesquisadores que analisaram o medicamento, as
pastilhas acinzentadas e em formato de disco, com cerca de quatro
centímetros de diâmetro e um de espessura, eram utilizadas como
colírios, aplicadas diretamente sobre os olhos, em tratamentos de
doenças oftalmológicas.
O navio Pozzino foi encontrado a 18 metros de profundidade no
Golfo de Baratti, na Itália, perto das ruínas da cidade etrusca de
Populonia. O navio naufragado foi descoberto em 1974 e as autoridades
arqueológicas da Toscana realizaram a primeira expedição aos destroços
em 1982. As descobertas indicam que o navio data de 140 a 130 a.C.,
época em que Populonia era um ponto importante nas rotas de comércio
marítimo entre o Ocidente e o Oriente.
As pastilhas foram encontradas próximas a frascos de madeira e outros
objetos que indicam que um médico estava a bordo do navio, como uma
vasilha de bronze que, pelo formato que possui, poderia ser utilizada
para sangrias (tratamento que consistia na retirada de sangue do
paciente) ou para aplicar ar quente para aliviar feridas.
Composição - Os pesquisadores utilizaram uma das
pastilhas, que estava quebrada, para fazer análises químicas, minerais e
botânicas, a fim de descobrir a composição do medicamento. Componentes
inorgânicos correspondem à maior parte das pastilhas. Os elementos mais
abundantes encontrados foram zinco (75%), silício (9%) e ferro (5%).
Apesar de o componente ativo do medicamente nem sempre ser o mais
abundante, é provável que os compostos de zinco sejam o princípio ativo
das pastilhas do Pozzino, pois o zinco já era utilizado desde a Antiguidade no tratamento de doenças.
Pastilhas encontradas no navio Pozzino
Além de apresentarem compostos de zinco em abundância, outro ponto que
contribuiu para a identificação das pastilhas como medicamentos de uso
oftalmológico foi o fato de que a palavra grega ҡоλλύρα, de onde se
originou o termo collyrium, em latim, significa algo como "pequenos
pedaços redondos". Isso mostra que a forma das pastilhas encontradas no Pozzino é coerente com o uso oftalmológico.
Dentre os compostos orgânicos, foram encontrados grãos de amido, cera
de abelha, resina de pinheiro, carvão vegetal e uma mistura de lipídios
de origem animal e vegetal. Também foram identificados grãos de pólen e
fibras de plantas, provavelmente de linho (Linum), planta cuja semente é
a linhaça, utilizada na culinária. Como tais fibras não foram
encontradas em outros medicamentos antigos, os pesquisadores acreditam
que elas foram adicionadas para impedir que as pastilhas se partissem
facilmente.
Grãos de amido foram encontrados em cosméticos de Roma, datados do
século dois d.C.. Resinas de plantas eram amplamente utilizadas na
medicina antiga. No caso das pastilhas do Pozzino, a resina de
pinheiro pode ter desacelerado o processo de degradação natural, devido a
propriedades antioxidantes, além de reduzir o crescimento de
micro-organismos.
Fonte: Veja
-noticia/ciencia/pesquisadores-descobrem-ingredientes-de-medicamentos-de-mais-de-2000-anos
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