CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Comprar medicamentos tem exigido cada vez mais tempo e
paciência do consumidor. Além da distribuição de senhas, algumas
farmácias em São Paulo já dispõem de bancos ou cadeiras enfileiradas
para os que aguardam atendimento.
O problema se agrava no caso dos remédios sujeitos a controle ou no
das compras por meio do programa Farmácia Popular, do Ministério da
Saúde. Em ambos os casos, além de apresentar a receita médica e
documento de identidade, o cliente deve preencher formulário com
múltiplos dados pessoais, que depois precisam ser lançados em sistemas
eletrônicos.
Essas exigências aumentaram o tempo de atendimento e carregam os
custos das farmácias. Pelos cálculos da Associação Brasileira de Redes
de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), a operação de venda de um
medicamento comum leva, em média, 6 minutos. Nos casos de controle, são
14 minutos. "Há excesso de burocracia, o farmacêutico se tornou um
digitador de luxo", reclama Sérgio Mena Barreto, presidente executivo da
Abrafarma.
Em uma farmácia na Avenida Pompeia, em São Paulo, por exemplo, quatro
farmacêuticos se revezam para lançar diariamente cerca de 300 receitas
médicas no Sistema Nacional de Gestão de Produtos Controlados (SNGPC).
Nessas condições, tende a aumentar a incidência de erros de digitação.
Essa é a lei e a lei tem de ser cumprida, argumentam os reguladores
da Anvisa e do Ministério da Saúde. Mas, para garantir segurança, não é
necessário tanto arrasta-arrasta. Nos Estados Unidos e em certos países
da Europa, por exemplo, as receitas médicas têm validade de dois a três
anos. E pacientes com doenças crônicas ou que fazem uso contínuo de
medicamentos podem cadastrar-se e encomendar remédios até pela internet.
A regulação dos medicamentos controlados no Brasil, assim como a
exigência de receita especial e identificação no ato da compra, existe
desde 1998 (Portaria 344). A informatização, a partir de 2009, não
deixou de ser um avanço, porque antes os dados eram anotados manualmente
em livros de registro.
O secretário-geral do Conselho Federal de Farmácia (CFF), José
Vilmore, atribui a excessiva lentidão do sistema à falta de
investimentos das farmácias em informatização. O setor de Comunicação da
Anvisa argumenta que a digitação dos dados nos sistemas de controle não
precisa, necessariamente, ser tarefa de farmacêutico; podendo ser
delegada a outros funcionários sob supervisão.
Mesmo que a tarefa seja repassada para auxiliares, não há garantia de
fim dos transtornos ao cliente. "O atendimento demora porque há poucos
profissionais ou porque eles estão despreparados", diz Ana Maria Malik,
coordenadora do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da
Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Independentemente das justificativas de um lado e de outro, o fato é
que a população brasileira está ficando mais velha, vai dependendo mais
dos seus remedinhos e precisa de mais cuidado, não só das farmácias, mas
também da regulamentação. Apenas chá de cadeira não é remédio. / COLABOROU DANIELLE VILLELA
Fonte: Estadão
Fonte: Estadão
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