Da mesma forma que acontece em todas as áreas e campos de atuação profissional, normalmente, quando os farmacêuticos encerram seus estudos na faculdade e encaram o mercado de trabalho, levam um choque de realidade ao se deparar com um ambiente tão competitivo e voraz, como é o nosso.
O que se escuta é que no geral o trabalho de varejo não é tão
reconhecido; as indústrias cobram especializações e cursos de
pós-graduação; os hospitais e clinicas são disputados... Enfim, todos
querem um profissional que já tenha experiência, que fale outras
línguas, que domine conhecimentos mercadológicos, que sejam lideres, pro
ativos, e por uma aí segue uma lista interminável de exigências,
impostas pelo mercado de trabalho.
Mediante tal perspectiva, existem dois tipos de reações dos profissionais farmacêuticos:
1º Há aqueles que ainda acreditavam ser a faculdade um sinônimo de
"riqueza", que quando se depararam com as realidades, entram em
"parafuso". Tudo o que consegue ver é a desvalorização profissional, a
falta de reconhecimento por parte de empresários e consumidores, a falta
de condições mínimas de trabalho e os baixos salários. Estes mesmos
indivíduos não perdem tempo e também não economizam posts nas redes
sociais para falar o que sentem e o que vêem. Anos depois você olha para
este tipo de profissional e ele continua o mesmo: mal empregado ou às
vezes, até mesmo, disponível no mercado de trabalho.
2º Existe, também, aqueles que em contato com a realidade ao invés de
verem um problema, vêem um desafio. Estes, em sua maioria, mesmo antes
de terminar a faculdade, já estão no mercado de trabalho, aprendendo
como se faz na prática. Esse perfil de profissional não economiza em
investimentos no conhecimento mercadológico, em cursos de línguas, em
especializações e em oportunidades de crescimento profissional. Anos
após formar-se na faculdade você olha para estes indivíduos e constata
que eles são diretores, gerentes, pesquisadores e coordenadores de
indústria – são empresários e empreendedores, profissionais bem
sucedidos no mercado.
Pessoalmente já conheci muitos profissionais farmacêuticos com ambos
perfis citados acima. Mas, nos últimos dias, lendo alguns depoimentos
sobre a profissão farmacêutica em redes sociais, lembrei-me de um
farmacêutico, empreendedor e empresário – que como muitos de sua geração
– batalhou e foi em busca de seus sonhos...
Antes de conhecê-lo pessoalmente, em um treinamento sobre liderança,
já ouvira falar muito sobre o empresário que fez uma das maiores redes
de farmácia em Goiás e que, também, construiu uma indústria
farmacêutica de sucesso no estado.
Historias de sucesso inspiraram líderes
Evandro Tokarski, natural do norte do Paraná, chegou a Goiás na
companhia de 11 irmãos, atraídos pela chamada "Marcha para o Oeste".
Desembarcou em Goiânia em 1974, disposto a concluir o segundo grau e
ingressar na universidade. E, assim, fez. Estudou nos Colégios Lyceu,
Colu e no Carlos Chagas, onde concluiu o segundo grau em 1976.
No ano seguinte, ingressou na Universidade Federal de Goiás, no curso
de Farmácia. Na época, o Brasil vivia uma situação política
completamente atípica e diferente de hoje. Os militares governavam com
mão de ferro o país. Os movimentos populares não tinham voz. A sociedade
civil estava silenciada. Toda espécie de manifestação contrária ao
Regime Militar era rechaçada com violência.
Foi nesse ambiente asfixiante que Evandro ingressou na Universidade.
Ele tinha que optar entre ser um estudante alienado, alheio aos
problemas do seu povo, ou ingressar no movimento estudantil –, que
começava a ser reconstruído, com todos os riscos impostos pela repressão
política. Ele não titubeou: escolheu o caminho da luta. Ombreou-se aos
jovens contestadores que lutavam por liberdade, contra as injustiças
sociais e por eleições livres e democráticas.
Evandro mal entrou na UFG, tornou-se liderança. Foi eleito secretário
geral do Diretório Acadêmico das Ciências Biológicas. Ajudou a
reconstruir o primeiro Centro Acadêmico da Universidade, que foi
denominada CA Prof. Marinho Lino de Araújo. Foi, também, o primeiro
presidente desta entidade, no ano de 1978.
Ainda no movimento estudantil, participou em Ouro Preto do 1º
Encontro dos Estudantes de Farmácia, também em 1978. Liderou greves pela
preservação do Curso de Farmácia até o ano de 1979. Fez parte ativa da
criação do Diretório Central dos Estudantes. Ainda em 1979, participou
da recriação da União Nacional dos Estudantes (UNE), que aconteceu em
Salvador (BA). Foi presidente da Comissão de Formatura da turma de
Farmácia. Colou grau em 1980.
Nesse mesmo ano, fez estágio na Farmacotécnica, farmácia do irmão
Rogério, em Brasília. Também em 1980, estagiou na farmácia do Hospital
das Clínicas, em São Paulo. Em 10 de maio de 1981, portanto, há 31 anos,
fundou com o apoio do irmão Rogério, a Farmácia Artesanal. Quando
surgiu, tinha um único colaborador. A empresa gera hoje 300 empregos
diretos e mais de 1000 indiretos.
No ano de 1984 em que milhões de brasileiros saíram às ruas para
exigir Eleições Diretas para Presidente da República, lá estava Evandro
novamente empunhando esta bandeira. É quando começa a vislumbrar uma
nova seara de atuação: a atividade sindical. É assim que, em 1985, foi
fundador e presidente da Anfarmago –
Associação dos Farmacêuticos Magistrais do Estado de Goiás.
Em 1987, assumiu a presidência da Associação dos Deficientes Físicos
de Goiás. Como havia contraído paralisia infantil aos 08 meses de idade
por falta da vacina que ainda não existia, fazia questão de participar
de diversos encontros nacionais pela inserção e direitos dos portadores
de necessidades especiais.
Já em 1999, criou com o irmão Rogério, a indústria de medicamentos
TKS. Naquele mesmo ano fez pós-graduação em Gestão Empresarial.
Elegeu-se, em 2001, presidente da Anfarmag, entidade nacional dos
farmacêuticos magistrais que congrega mais de 5 mil associados.
Conquistou, também em 2001, o título de especialista em Farmácia
Magistral Alopática emitido pelo Conselho Federal de Farmácia e pela
Anfarmag...
Quando olho para a história de Evandro Tokarski me pergunto, quantos
farmacêuticos como ele, existem hoje no Brasil? Quantos farmacêuticos
estão dispostos a olhar para o mercado, para os problemas da profissão e
encarar tudo como um desafio, como uma oportunidade de crescimento? Por
que mesmo diante deste e de vários outros exemplos de farmacêuticos bem
sucedidos, ainda existem aqueles que insistem em viver uma vida
profissional de derrotas, culpando o país, a classe profissional e a
sociedade?
Também não sei as respostas para minhas perguntas. O que sei é que
não haverá nunca uma "profissão perfeita" em nenhum campo profissional
do mercado. E na farmácia não será diferente. O sucesso de uma carreira
profissional está nas mãos e no desejo de realização de cada um.
Olhando para a história de Evandro, aprendo que decidir tirar o
"melhor" de qualquer experiência que o mercado farmacêutico nos
apresente é, também, uma escolha pelo crescimento e pela prosperidade.
Acredito que podemos ser a mudança, fazer a diferença compartilhando a
paixão que temos com a profissão farmacêutica no Brasil.
* Marcus Vinicius de Andrade: Empresário e Administrador de Empresas.
É fundador e diretor executivo do ICTQ – Instituto de Ciência,
Tecnologia e Qualidade – www.ictq.com.br
Fonte: Administradores.com
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