quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Doenças infecciosas emergentes e reemergentes: Estamos preparados?

Portugal precisa de implementar uma política laboratorial de Biossegurança

2012-10-02
Por Susana Lage
 
Sofia Núncio
Sofia Núncio
 
As doenças infecciosas emergentes e reemergentes como a Sida, o vírus do Nilo Ocidental, a pneumonia atípica (SARS), o vírus do Ébola ou a gripe aviária têm vindo a aumentar no mundo nos últimos anos. Como exemplos recentes há a nova estirpe de Escherichia coli e, no mês passado, a identificação de um novo coronavírus. No entanto, é imprevisível saber com antecedência qual ou quais as doenças que irão emergir em Portugal num futuro próximo. 
 
Segundo Sofia Núncio, mais importante do que saber quais as doenças que podem aparecer no país, “é fundamental direccionar os esforços no reforço da vigilância, conhecer os agentes que circulam, onde e qual o potencial impacto na Saúde Pública”.

A investigadora da Unidade de Resposta a Emergências e Biopreparação do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, explica ao Ciência Hoje que os estudos realizados até ao momento indicam que “60 por cento das doenças emergentes são originárias de doenças animais transmissíveis ao homem, como a brucelose. Muitas delas também estão associadas a vectores como os mosquitos, carraças e roedores, tal como a malária e os vírus hemorrágicos. Igualmente importantes são as doenças emergentes devido ao aparecimento de mecanismos de resistências aos antimicrobianos, que se devem principalmente à utilização crescente de antibióticos, como são os casos da tuberculose resistente e da bactéria E. coli”.

Diante este cenário, os mecanismos de vigilância, diz Sofia Núncio, “permitem fazer o acompanhamento da situação e fornecer a informação às autoridades competentes que devem actuar em conformidade e atempadamente à situação detectada”.

Entre as medidas mais aconselháveis para uma abordagem abrangente das doenças infeciosas que podem ser adoptadas em Portugal, a especialista aponta a necessidade de “investir na formação contínua, na organização de simulações que permitam melhorar a comunicação, a coordenação e as capacidades de todas as autoridades e profissionais de saúde, nomeadamente, médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório, veterinários, técnicos de saúde pública, forças de segurança e intervenção, entre outros”.

Práticas implementadas noutros países são importantes para abordagem das doenças infecciosas
Práticas implementadas noutros países são importantes para abordagem das doenças infecciosas
 
Adoptar novas práticas

Para debater os assuntos relacionados com Biossegurança e Doenças Infeciosas emergentes e reemergentes, partilhar conhecimentos e experiências seguindo as orientações europeias, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge organizou para o próximo dia 29, o II Workshop «Biossegurança: Doenças Infeciosas, uma potencial ameaça biológica».

O principal objetivo do encontro é contribuir para a implementação de uma política laboratorial de Biossegurança em Portugal.

A iniciativa vai dar especial ênfase à adopção de práticas implementadas noutros países, fundamentais para uma abordagem abrangente das doenças infecciosas emergentes e reemergentes. Serão ainda divulgadas as primeiras etapas alcançadas pela Rede Laboratorial Portuguesa de Biossegurança (Lab-PTBioNet), criada no decorrer do I Workshop «Biossegurança: Situação em Portugal», realizado o ano passado.

“Até à data foi possível integrar quase todas as Instituições Portuguesas com laboratórios BSL‑3; conhecer o número de laboratórios BSL–3 em Portugal e quais as suas valências; criar um inventário dos agentes infecciosos, linhas celulares, entre outros, que cada laboratório dispõe; iniciar a elaboração do Manual de Biossegurança uniformizado para todos os laboratórios; e organizar anualmente um Workshop sobre Biossegurança que contribuiu para a disseminação do conhecimento científico nesta área”, avança Sofia Núncio referindo-se às primeiras etapas alcançadas pela Lab-PTBioNet.
 
Fonte: Ciênia Hoje
 

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