Raíza Tourinho, jornalista
Achei que seria mais difícil. Em uma tarde no final de janeiro, fui à
Feira de São Joaquim com a missão de verificar o comércio de
medicamentos ilegais no local.
Não foi uma ideia original. Há pouco mais de um ano, dois repórteres
de A TARDE já haviam feito o mesmo. Assim, deveria só conferir se o
esquema continuava ativo.
Tinha até uma história pronta: grávida de 19 semanas, iria pedir
azitromicina, um antibiótico prescrito para, entre outros problemas,
tratar gonorreia e clamídia. O remédio é contraindicado para grávidas.
Entrei na feira e comecei a procurar por remédios. Após perguntar a
três vendedoras, elas disseram não haver farmácia ali. Logo, um homem me
abordou e perguntou o que eu queria.
Expliquei. Ele começou dizendo que ali não tinha remédio, mas depois
mudou o discurso e contou que haviam vários vendedores oferecendo na
entrada da feira o Cytotec, um medicamento abortivo proibido para
comercialização há oito anos no País.
Depois que pedi para falar com um deles, sob a justificativa de que
"talvez eles soubessem", o barraqueiro acenou para um homem sentado na
entrada da feira.
Facilidade
O homem, um senhor de meia-idade com jeitão malandro, quando descrevi o
azitromicina assumiu uma expressão de quem não sabia sobre o que eu
estava falando. Mas bastou ver minha barriga e ouvir as palavras "partes
íntimas" para me apresentar o Cytotec.
Deve ter achado que minha gravidez era a infecção a ser curada. O
preço? R$ 50 cada comprimido. Mas, pelo meu estágio, só ia resolver se
tomasse "uns três".
Como eu não possuía a quantia na mão, ele me acompanhou até a um banco e
me passou os comprimidos garantindo que não ofereciam "risco nenhum".
Tudo isso ocorreu no início da feira, a alguns metros de policiais da
Rondas Especiais (Rondesp), que faziam uma batida no local. O
medicamento, que custou R$ 110 após "pechincha", foi entregue ao
Ministério Público da Bahia.
Fonte: Portal A Tarde
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