sábado, 8 de janeiro de 2011

Farmacêuticos recusam multar doentes com patologias crónicas

por Maria Catarina Nunes , Publicado em 08 de Janeiro de 2011  |  Actualizado há 22 horas
 
Ministério quer cobrar taxas aos doentes que façam mau uso dos medicamentos gratuitos. "Não contem connosco", avisa o bastonário
A Ordem dos Farmacêuticos não vai colaborar com o Ministério da Saúde para cobrar taxas aos doentes que façam mau uso dos medicamentos disponibilizados gratuitamente pelos hospitais. Em entrevista ao i, o Bastonário dos Farmacêuticos admite que existe um problema na dispensa de medicação aos doentes de ambulatório, mas não concorda com a solução encontrada: "A medida visa a redução da despesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e está bem diagnosticada. Só peça por ser tardia. É preciso encontrar uma solução, mas não é esta", adianta Maurício Barbosa.

O Ministério da Saúde está a trabalhar num diploma para multar os doentes que desperdicem ou façam mau uso dos medicamentos distribuídos gratuitamente nas farmácias dos hospitais. A medida vai afectar sobretudo os utentes que tomam medicamentos mais caros - como os portadores de sida, cancro, esclerose múltipla, transplantados renais, doentes de reumatologia ou com doença de khron. "Falamos de medicação altamente dispendiosa, mas não estou a ver que seja cobrado um valor em caso de má utilização. Isto implica que os farmacêuticos passem multas. Não contem connosco", garante o bastonário, que acredita que o Estado devia "potenciar e tirar vantagens da relação de confiança existente entre técnicos e pacientes".

Maurício Barbosa sugere três soluções mais adequadas: mais farmacêuticos e psicólogos clínicos nas unidades hospitalares; toma dos medicamentos com observação directa para doentes que não cumpram as regras; e um melhor trabalho de fiscalização por parte da associação que congrega os hospitais públicos. Para o bastonário, o problema de base é a falta de informação da maior parte dos utentes sobre a necessidade de tomarem a medicação: "Há muitos doentes iliterados. É preciso promover a adesão à terapêutica e não há técnicos suficientes nos hospitais para o fazer. Não há tempo. A grande vitória é que o doente fique consciente da importância da toma", considera.

Além disso, os incumpridores deveriam fazer a toma com observação directa, como já acontece com quem usufrui da substituição narcótica: "Temos uma boa rede de farmácias pelo país, e quem fizer mau uso dos medicamentos deveria tomar a sua medicação em frente ao farmacêutico, nos hospitais ou nas farmácias comunitárias". Sobre a fiscalização, o bastonário recorda que a associação que reúne os hospitais públicos recebe, desde 2007, de cada unidade hospitalar, uma lista anual com as novas entradas de utentes. "Existindo a hipótese de um doente estar registado em vários hospitais, pode levantar a medicação em dois sítios. Mas se a associação fizesse um cruzamento dos dados enviados por cada hospital, o controlo seria mais eficiente. Duvido que isto esteja a ser feito". Maurício Barbosa recorda que "os gastos com medicamentos são a segunda maior despesa dos hospitais, depois dos vencimentos". 
 
fonte: http://www.ionline.pt/conteudo/97378-farmaceuticos-recusam-multar-doentes-com-patologias-cronicas

2 comentários:

  1. Eu preciso me manifestar pois é isto que faço: Dispensar os medicamentos, chamados de alto custo, na rede pública. Estes medicamentos, aqui no Rio Grande do Sul, são dispensados pelas farmácias municipais. O fluxo é: As Coordenadorias Regionais de Saúde, eu trabalho em uma, repasssam aos municípios os medicamentos e estes fazem a dispensação. Apesar dos esforços dispensados por nós, os municípios resistem a incluir o farmacêutico na sua equipe de saúde, na UBS. O uso racional de medicamentos passa, obrigatoriamente, pela inclusão do farmacêutico na equipe da rede básica de saúde. Sei do que falo, a coordenadoria em que trabalho tem 58 municípios sob sua supervisão e nem todos tem farmacêutico. O Ministério deveria, sim, multar os gestores municipais que desconsideram a necessidade e importância deste profissional na rede e isto independe do custo do medicamento e da complexidade da doença. A Assistência/Orientação Farmacêutica qualificada faz toda a diferença na utilização correta do medicamento.
    A Ordem dos Farmacêuticos deve apontar esta falha ao Ministério e, quem sabe, negociar uma maior força para inclusão do farmacêutico nas equipes.

    ResponderExcluir
  2. Lisia em Portugal não se admite a farmácia funcionar sem a presença do Farmacêutico.
    No Brasil isso seria praticamente uma utopia.

    ResponderExcluir