Segundo o CRF-SP, a venda desses medicamentos é retrocesso e incentivo da automedicação do brasileiro
Por Luiza Belloni VeronesiSÃO PAULO - O CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo) voltou a se manifestar contra a proposta da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que permite às farmácias e drogarias colocarem medicamentos ao alcance do paciente.
Segundo a entidade, a proposta em liberar a venda de MIPs (Medicamentos Isentos de Prescrição) é um retrocesso e um incentivo à cultura da automedicação do brasileiro. “Ela (Anvisa) leva em conta apenas interesses econômicos e não a saúde dos pacientes”, reforça o presidente da Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo, Pedro Menegasso.
Para ele, a prática de automedicação é um problema grave no País. A agência discute a revisão da RDC 44/09, em especial sua instrução normativa nº 10, que tirou do alcance direto dos pacientes esses medicamentos.
A entidade ainda rebate o argumento da Agência para a volta dos MIPs ao autosserviço. “A Anvisa alega utilizar uma pesquisa do comércio farmacêutico e diz que, com os MIPs ‘atrás do balcão’, o preço médio deste perfil de medicamento aumentou, ou seja, as farmácias empurram para o paciente o medicamento mais caro”, pontuou em nota.
A Anvisa afirma também que a retirada dos medicamentos aprofundou a assimetria entre os usuários e o estabelecimeno farmacêutico, porque o consumidor ficou sem possibilidade de escolha. “Essa preocupação não parece ter sido registrada na própria consulta pública aberta pela Anvisa sobre a mudança da RDC 44/09. Mais de 70% das 152 manifestações registradas pela consulta pública foram contrárias ao retorno dos MIPs ao autosserviço, como querem os donos de farmácia e parte da indústria farmacêutica”, afirmou a entidade.
Segundo informações da Agência, desde que os MIPs foram para trás do balcão, o Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas) não indicou nenhuma queda na quantidade de intoxicações por medicamentos registrada no país.
“Outro argumento fraco. Se o uso de um MIP mascarar o sintoma de uma doença, aparece no índice de intoxicação? E se o uso de um MIP fizer o paciente adiar o uso de um medicamento específico, agravando uma doença, ou se um MIP interagir com outro medicamento do qual o paciente necessita, diminuindo o seu efeito e permitindo o avanço da doença, aparecerá no índice de intoxicação?”, rebate novamente Menegasso.
Crítica aos farmacêuticos
Entre outras justificativas da Anvisa, segundo a entidade, é a crítica direta aos farmacêuticos que, mesmo presente no estabelecimento, muitas vezes o medicamento é dispensado por um balconista sem a devida orientação. A CRF-SP reconhece a falha, mas para o seu presidente, esses problemas não justificam o “retrocesso”.
“Mudanças culturais e comportamentais levam tempo para ocorrer e há necessidade de mudarmos a cultura da automedicação. Em São Paulo, mesmo com a lei aprovada pela Assembleia Legislativa, várias drogarias mantiveram os MIPs atrás do balcão pela convicção de que a farmácia é um estabelecimento de saúde e isso se deu pela ação dos farmacêuticos comprometidos com a saúde dos pacientes”, finaliza.
Fonte: InfoMoney
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