Combate à desnutrição é desafio, diz brasileiro em missão no Sudão do Sul
Campos de refugiados do país registram até 5 mortes de crianças por dia.
Temporada de chuvas aumentou casos de malária, diz Guilherme Gontijo.
O mineiro Guilherme Simão Gontijo, responsável
pela farmácia central que atende a dois campos de
refugiados no Sudão do Sul (Foto: Gregory
Vandendaelen / MSF)
pela farmácia central que atende a dois campos de
refugiados no Sudão do Sul (Foto: Gregory
Vandendaelen / MSF)
Foi este cenário que o brasileiro Guilherme Simão Gontijo encontrou ao chegar, há um mês, para trabalhar em sua primeira missão na organização humanitária Médicos sem Fronteiras no país. Farmacêutico, ele trabalha na distribuição de medicamentos e alimentos terapêuticos para os campos de Doro e Batil, onde vivem mais de 34 mil refugiados.
“Cheguei no início da temporada de chuvas. Desde então, as estradas ficaram ruins, o que fez com que a entrega de mercadorias demorasse mais do que o normal. Também aumentaram os casos de malária. A gente está numa corrida grande para tentar identificar as pessoas com a doença”, contou ao G1, via Skype, o mineiro de Muriaé.
Além da malária, as chuvas também trouxeram outros problemas, segundo o brasileiro. “Não existe saneamento básico. As pessoas vão chegando e recebem tendas ondevão se abrigar. O MSF intensificou a distribuição de latrinas para diminuir a possibilidade de contaminação pela água, mas ainda é um problema muito sério.”
Como consequência, afirma o farmacêutico, aumentaram os casos de diarreia, infecções e doenças respiratórias, principalmente entre crianças desnutridas, mais suscetíveis à contaminação.
“Nosso objetivo é tentar reforçar o organismo dessas crianças para, então, poder combater estas doenças. Com a alimentação, elas ficam mais aptas a responder a um tratamento com antibióticos. No momento, o foco do MSF é combater a desnutrição”, afirma.
Desnutrição e mortesNum dos campos em que Gontijo trabalha, o de Batil, no estado de Alto Nilo, uma em cada três crianças está desnutrida, segundo relatório divulgado pela organização na última sexta-feira (3). O índice de desnutrição severa aguda, de 10,1%, é cinco vezes mais elevado que o patamar de emergência.
A situação é ainda mais grave no vizinho campo de Yida, que abriga os 55 mil refugiados no estado de Unity, o estudo realizado em junho e julho aponta uma média de cinco mortes de crianças por dia, a maioria por diarreia e infecções graves.
Imagem
de 26 de julho mostra a sudanesa Akim Faha segurando a filha Tuna Osman
em um dos hospitais de campo do Médicos sem Fronteiras no campo de
refugiados de Batil, no Sudão do Sul (Foto: AFP)
“A maioria dos nossos pacientes em ambos os acampamentos são crianças desnutridas que ficam mais enfraquecidas quando têm diarreia, malária ou infecções respiratórias. Elas rapidamente entram em um círculo vicioso de doenças que podem levar a complicações e à morte. Nossas equipes médicas estão trabalhando sem parar em condições desesperadoras tentando salvar vidas”, relata o coordenador geral de MSF, André Heller-Pérache, no material divulgado pela organização.
Guilherme Gontijo descreve como o mais difícil em sua primeira missão lidar com mudanças na distribuição de alimentos e medicamentos para poder atender a uma população em um limite muito perigoso. "Neste tipo de missão temos que estar preparados para todo tipo de adversidade, saber lidar com prioridades. Às vezes ficamos com muito pouco [de ajuda humanitária], mas temos que conseguir atender todos de forma correta."
Mais jovem país do mundoMais jovem país do mundo, o Sudão do Sul se emancipou em 9 de julho do ano passado, após uma votação nacional prevista no acordo de paz que pôs fim à 21 anos de luta entre o governo do Sudão e os rebeldes do Sul – a mais longa gerra civil africana, que matou 2 milhões de pessoas e forçou o deslocamento de 4 milhões, segundo a ONU.
A separação, no entanto, não ajudou a situação do novo país onde, segundo a ONU, 90% da população é considerada pobre e uma em cada sete crianças morre antes de completar um ano.
Fonte: G1
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