Quando a gente vai ao médico, imaginamos que ele conheça exatamente
todos os remédios para cada moléstia que pode acometer um ser humano.
Não é verdade. A cada ano, são testados e lançados uma infinidade de
novos medicamentos, e nem sempre os doutores estão a par das novidades.
Às vezes, eles precisam acreditar na indústria farmacêutica. Mas será
que ela é digna de confiança?
Já houve quem investigasse o problema no caminho que um remédio faz
entre o laboratório e a farmácia. A realidade parece perigosa: em busca
de proteger os próprios interesses econômicos, os laboratórios
farmacêuticos nem sempre liberam os remédios ao mercado com a garantia
de que farão bem aos pacientes.
Como um remédio chega à prateleira da farmácia?
O Brasil é um exemplo claro de como esse sistema não é infalível. A
entidade que libera remédios para uso comercial no país é a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um órgão ligado ao Ministério
da Saúde. Além dos medicamentos, no entanto, eles também precisam se
preocupar em regular a produção de agrotóxicos, cosméticos, alimentos e
vários outros produtos.
Existem 23 laboratórios oficiais no Brasil, que são ligados à Anvisa e
fornecem medicamentos para o Sistema Único de Saúde (SUS). As centenas
de laboratórios privados, no entanto, estão sob observação menor: o
único controle realmente rigoroso por parte da Vigilância Sanitária
acontece no momento de permitir que a empresa abra.
Uma vez operantes, os produtores detém o controle sobre os testes. Em
outras palavras: quem aprova um remédio para uso da população é a
Anvisa, mas são os próprios laboratórios que atestam a qualidade do
medicamento que eles mesmos fabricaram. Em geral, eles mesmos fazem os
testes e publicam os resultados. Com este aval, o produto já pode ser
comercializado.
Uma prática perigosa
Na Grã-Bretanha, país onde o sistema de aprovação de remédios é muito
parecido com o nosso (com a diferença que a MHRA, entidade responsável,
cuida apenas de medicamentos e nada mais), a medicina nem sempre
conversa muito bem com a farmácia.
Um médico inglês, Benjamin Goldcare, se viu confuso quando surgiu no
mercado um novo antidepressivo chamado reboxetina (no Brasil, mais
conhecido pelo nome comercial Edronax). Para avaliar se era seguro
receitar tal remédio a seus pacientes, ele pesquisou estudos acadêmicos e
resultados de testes. Encontrou apenas resultados favoráveis e nem uma
só linha falando mal do remédio.
Depois de algum tempo, o médico britânico reparou que a reboxetina
simplesmente fazia menos efeito do que um placebo nos pacientes que ele
tratava. Além de não tratar dos sintomas da depressão, ela apresentava
alguns efeitos colaterais graves, tais como aumento do risco de ataque
cardíaco, que não foram mencionados em nenhum momento pelos resultados
dos farmacêuticos.
O dr. Goldcare conta que teve acesso a todos os testes acadêmicos e
laboratoriais feitos com a reboxetina. Inclusive com os que não chegaram
a ser publicados. Fazendo as comparações, ele descobriu que os testes
com resultados negativos, ou pelo menos “alarmantes”, são quase sempre
escondidos. Os laboratórios só revelam os testes que lhes interessa.
A pior parte da realidade, no entanto, é que os laboratórios não
estão agindo na ilegalidade. O sistema de teste e aprovação dos remédios
coloca controle excessivo nas mãos dos fabricantes, de forma que eles
quase sempre podem definir qual o veredicto sobre qualquer medicamento
em fase de experimentos.
Esse mecanismo coloca uma série de medicamentos no mínimo ineficazes
no mercado. Além de não surtirem o efeito esperado, podem ocasionar
novos problemas no organismo. Se a questão se resumisse aos lucros dos
laboratórios, não seria tão preocupante. Mas o médico Goldcare teme um
futuro trágico para a saúde das pessoas se não houver mudanças neste
panorama. [The Guardian/Anvisa/UFRJ]
Fonte: Hyperscience
-industria-farmaceutica-pode-enganar-pacientes-vendendo-remedios-que-nao-funcionam/
ResponderExcluirDaí a importância das Farmácias Notificadiras para poder dar um feedback informando a Anvisa sobre as possíveis reações adversas do medicamento depois de lançado no mercado.
ExcluirE o consumidor é sempre a vítima. Onde nós vamos parar?