segunda-feira, 21 de março de 2011

Portugal - Está criado quadro favorável a depressões

Está criado quadro favorável a depressões

Um estudo recentemente realizado ao nível europeu dá conta de que Portugal tem um elevado número de deprimidos, sendo um dos países da Europa em que o problema é mais grave.
Convidado a comentar esta situação, o psiquiatra madeirense Luís Filipe Fernandes prefere dizer que vivemos perante uma sociedade autista. O termo “depressiva” não é, segundo refere, a palavra mais adequada.
Ainda assim, admite que está, contudo, criado um quadro favorável à formação de episódios depressivos.
Aquele médico explica, em declarações ao JORNAL da MADEIRA, que estamos a assistir a uma «competitividade agressiva e pouco saudável, em que os mais desfavorecidos são aniquilados pelo poder e não pelo saber ou valor».
«Ninguém olha para o lado, ninguém estende a mão», realça.
O psiquiatra recorda que quando as pessoas não têm acesso às coisas básicas, deixam de acreditar. «Não se pode exigir produtividade a quem não acredita e a quem não tem direito à saúde», sublinha aquele médico, a quem custa, enquanto cidadão, sentir que pessoas com doenças crónicas não tenham acesso aos tratamento, só porque não podem pagar.

Depressão é doença e não “fraqueza”

«Penso que o consumo de anti-depressivos tem vindo a aumentar nos últimos anos em toda a comunidade não sendo Portugal, nem a Região uma excepção», admite Luís Filipe Fernandes. O psiquiatra julga que pode haver algumas explicações para este facto como sejam uma maior informação e sensibilização da população para o entendimento da depressão como doença e não como uma qualquer "fraqueza".
Hoje, segundo acrescenta aquele especialista madeirense, «as pessoas são mais competitivas pelo que a noção da "qualidade de vida" tem outras exigências».
Luís Filipe Fernandes aponta ainda a dinâmica social a que assistirmos.

Tratamento intensivo diminui recaídas

Conforme acrescenta o psiquiatra, muitas vezes, dá-se demasiado valor às "aparências" exteriores e pouco se valoriza o ser».
Na depressão, o tratamento rápido, intensivo e completo (até o desaparecimento total dos sintomas) diminui o risco de recaídas, de depressões de tratamento difícil no futuro e de atrofias de Hipocampo.
Isso é importante para portadores de depressão que perdem meses em psicoterapias e tratamentos alternativos.
Terapia é muito importante, mas na depressão ela é actor coadjuvante e não principal.
Como depressão significa “tristeza”, as pessoas acham que o principal sintoma é mesmo este último.
No entanto, a principal queixa é mesmo a queda de energia.
Depressão é uma doença do corpo inteiro, não só do cérebro. O paciente sente-se pesado, lento (ou com agitação improdutiva), com dores no corpo, dores de cabeça, fibromialgia, entre outros.

Farmácias sentem aumento na venda de anti-depressivos

O farmacêutico Paulo Sousa diz que, infelizmente, é verdade que estão a ser vendidos cada vez mais anti-depressivos.
Dado o quadro actual da nossa sociedade, «e muito provável que isso ainda aumente nos próximos anos», admite Paulo Sousa. «Estamos perante uma situação muito desgastante para as pessoas, que enfrentam graves problemas financeiros», sublinha. Há um conjunto de factores que propiciam o aumento das depressões, considera, embora não saba quantificar a taxa de aumento das vendas. Fluoxetina (PROZAC) e Seprtralina são alguns dos medicamentos mais vendidos para a depressão.

Consumo aumentou 45% em cinco anos

Portugal é o segundo país da Europa Ocidental com maior consumo de anti-depressivos. Dados do Instituto da Farmácia e Medicamento indicam que, nos últimos cinco anos, este consumo aumentou 45 por cento. A ONU considera que há motivos para preocupação e alertou as autoridades portuguesas.
No relatório anual, Portugal aparece como o segundo país da Europa onde se consome mais drogas legais, logo a seguir à Irlanda.

Recordes em todo o Mundo

Os anti-depressivos são dos medicamentos que mais se vendem em todo o mundo, movimentando anualmente milhões de dólares.
O objectivo primordial dos antidepressivos é o de bloquear diversas facetas do mecanismo de transmissão sináptica nos neurónios, aumentando os níveis de neurotransmissores como a serotonina, a norepinefrina e a dopamina. Com este aumento pretende-se estabilizar o humor e as emoções. As depressões são causa de muitas baixas profissionais.

Sai mais caro se doença não for tratada

Luís Filipe Fernandes está preocupado com medidas economicistas que podem fazer com que grande parte dos doentes não tenha acesso ao tratamento. Uma situação que pode aumentar os custos indirectos também em 80 por cento.
Por muito caro que seja tratar a depressão, muito mais caro fica se não se tratar, defende o psiquiatra.
Não esquecendo todos aqueles que por maior vulnerabilidade genética, estão susceptíveis de fazerem a sua depressão (independentemente de haver ou não uma situação causal), o psiquiatra madeirense garante não estar surpreendido se se disser que a incidência e a prevalência da depressão tenham vindo a aumentar, aliás como todos os estudos o previam.
Sendo isto certo, «e sabendo estarem hoje os Médicos da Medicina Familiar, mais sensibilizados para o diagnóstico precoce e tratamento correcto é lógico que o consumo de anti-depressivo tenha aumentado».
Fonte: http://www.jornaldamadeira.pt/not2008.php?Seccao=14&id=178693&sdata=2011-03-21

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