segunda-feira, 4 de julho de 2011

Especialistas advertem sobre os riscos dos corantes de alimentos e remédios


Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR


Às vezes, um doce, um chocolate ou um simples pacote de tempero podem se transformar em perigosos inimigos para o organismo humano. O problema é que esses alimentos industriais e mesmo alguns remédios causam alergias que podem provocar até um edema de glote —reação alérgica grave que pode levar à morte se não houver uma intervenção médica rápida.

Em mais uma tentativa de controlar a venda e o consumo de certos produtos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que todos os alimentos e medicamentos que incluam o corante sintético tartrazina em sua composição devem exibir um aviso no rótulo. Porém, como a ordem ainda não está sendo cumprida, os alérgicos ao produto ou a outros corantes continuam se expondo a riscos. Eles se comportam como se estivessem no escuro, provando uma coisa aqui ou um veneno ali, sentindo as reações e cortando os produtos de suas listas.

Substâncias como a tartrazina pertencem ao grupo dos aditivos alimentares e são eles que conferem cor aos alimentos, mas também são usados em cosméticos e medicamentos. Corantes naturais costumam ser bem tolerados pela maioria das pessoas e raramente provocam alergia. Já os sintéticos são aditivos mais relacionados à alergia. “Eles são utilizados para melhorar o paladar, a aparência ou mesmo como excipiente de alimentos, estando presentes em inúmeros produtos como sucos, balas, gelatinas, molhos, refrigerantes e laticínios. Além disso, podem ser usados na fabricação de remédios”, explica Marly Marques da Rocha, médica alergista e imunologista.

De acordo com Marly, esses pigmentos causam reações adversas após a ingestão de alimentos ou aditivos alimentares. “Essas podem ser classificadas em reações tóxicas e não tóxicas. As não tóxicas podem ser desencadeadas diretamente por fatores imunológicos ou não imunológicos”, salienta. A especialista destaca dois grupos de corantes campeões em alergia: os azocorantes ou corantes amarelos, como a tartrazina, o ponceau e o amarelo crepúsculo; e os não azocorantes, como o azul brilhante, a eritrozina e a indigotina.

A médica explica que a tartrazina é o mais citado e deriva de uma substância denominada coaltar (substância com ação anti-inflamatória), que contém algumas semelhanças com o ácido acetil-salicílico (AAS) e outros anti-inflamatórios não hormonais. Por isso, acredita-se que algumas pessoas sensíveis a esses remédios poderiam também ter reação alérgica ao ingerir a substância. “A quantidade de tartrazina contida nos medicamentos não é significativa para provocar alergia. Embora seja obrigatório referir na bula o aviso de que pode causar asma em pessoas sensíveis ao AAS, muitas vezes confunde o paciente”, observa.

Informações úteis
Atualmente, são poucos os remédios que contêm corantes derivados da tartrazina. Mas foi com um desses que a empresária Jaqueline Dias descobriu que era alérgica. Acometida por uma infecção urinária, ela tomou um medicamento para tratar a doença mas, após dois dias, as manchas vermelhas na pele funcionaram como um sinal de alerta. Ela voltou ao médico e este orientou a suspensão do remédio. A empresária era alérgica ao corante utilizado no medicamento. “Eu tenho alergia à substância vermelha que colore os remédios para infecção urinária. A bula do remédio informa que ela é um corante do grupo químico azo (a classe mais importante de substâncias que promovem cor)”, relata. Segundo a empresária, o jeito é não ingerir remédios que contenham a substância. “É uma ação preventiva, para que não ocorram mais os sintomas desagradáveis”, explica.

A substância está presente em alimentos industrializados, medicamentos e até mesmo em cosméticos e vestimentas que podem levar a quadros de dermatite de contato. A especialista Ana Paula Moschione Castro conta que o desconforto se apresenta, geralmente, na forma de urticária (placas avermelhadas espalhadas pelo corpo. As reações verdadeiramente alérgicas aos aditivos (corantes) são raras, mas quando surgem, aparecem rápido, em até uma hora após a ingestão, e podem ocorrer com quantidades mínimas ingeridas.

No caso do garoto Victor Hugo de Souza, 8 anos, a suspensão da ingestão de doces e balas abateu o seu humor, mas teve de ser efetivada por motivos sérios. Ele foi diagnosticado há pouco mais de três anos com alergia ao corante contido nas balas. “Ele comia, não demorava muito, começavam as coceiras e os olhos inchavam”, conta a mãe, Rita de Souza. Segundo ela, a solução foi proibi-lo de comer chocolates e doces de modo geral que contivessem corantes e dobrar a atenção. “Caso contrário ele comeria escondido. Ele diz: ‘Mãe, vou me entupir de balinha, não estou nem aí para o inchaço’. Mas, é claro, eu não deixo”, garante Rita. Ela conta que Victor faz o tratamento para essa e outras doenças alérgicas, como a rinite.

Com João Paulo Cavalcante, o problema foi percebido ao usar os temperos prontos em pó. Com histórico de intolerância à lactose e rinite, ele mudou radicalmente o estilo de vida ao descobrir que não poderia ingerir alimentos industrializados. “Usávamos muito em casa os temperos prontos. Passava pouco tempo, eu sentia coceiras pelo corpo todo e apareciam manchas — era muito desagradável. Para não sentir mais nada disso, virei vegano”. Veganos são pessoas que não consomem nada de origem animal. Cavalcante explica não ter mais problema com a comida, pois sempre vai a restaurantes naturais. E que toma vacinas contra as outras alergias.

Sintomas e dores

As alergias a alimentos e remédios podem se manifestar também por meio de sintomas variados no sistema respiratório, como falta de ar e broncoespasmo, ou por crises de vômitos e cólicas. Sabe-se que alguns tipos de aftas de repetição e estomatite alérgica de contato podem ser relacionadas com a ingestão de aditivos alimentares. “As lesões se iniciam em geral poucas horas após a ingestão do aditivo e podem ocorrer por saturação; ou seja, quanto mais ingerir, maior a possibilidade de reação”, ressalta Marly Marques.

Embora raras, as complicações são descritas como reações anafiláticas a sulfitos (compostos químicos usados como antioxidantes na indústria alimentar). Quanto ao tratamento, é necessário identificar a reação ao corante, por meio de exames e observação e, a partir daí, evitar sua ingestão. “É fundamental que eles (os sulfitos) estejam descritos nos rótulos de alimentos e medicamentos”, sugere. A médica acha importante pesquisar rótulos de alimentos industrializados, pois podem vir com o nome do corante. Ela orienta ainda sobre outros cuidados: “A alimentação deve ser bastante regulada e isso influenciará na saúde da criança talvez por toda vida”, acredita.

Uso controlado
A tartrazina é um pigmento sintético que proporciona a cor amarelo-limão em alimentos. Seu uso mais frequente se dá em bala, goma de mascar, gelatina, cosméticos e medicamentos. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a tartrazina é muito utilizada em sua cor amarela e para produzir vários tons de verde. O uso da tartrazina é proibido na Noruega e já foi banido na Áustria e Alemanha, antes de o Conselho Diretivo da Comunidade Europeia ter revogado sua proibição. No Brasil, a tartrazina tem o seu uso restrito e regulado pela Anvisa, devido a possíveis reações alérgicas em pessoas com asma, bronquite e urticária.

Prevenção
» Dietas devem ser feitas com a indicação do médico alergista
» Prefira alimentos naturais. Uma fruta ou um suco são certamente mais saudáveis comparados a refrigerantes e a outros produtos industrializados
» Excluir o corante totalmente da dieta

» Não existem testes (na pele ou no sangue) eficazes para diagnóstico de alergia aos corantes
Do Estado de Minas

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