Riad Younes
De São Paulo
De São Paulo
O que me chamou a atenção foi o modo desinformado, ou despreocupado, que os pacientes lidavam com o refluxo. Muitos esqueciam totalmente de mencioná-lo, até que perguntas diretas os lembravam. Razão muito simples. Numerosos indivíduos conviverame convivem com os sintomas do refluxo durante muitos anos. Por vezes décadas. Tomam medicamentos livremente encontráveis em farmácias, sem consultar médicos ou receberem qualquer orientação. Isso pode ser perigoso.
O refluxo gastro-esofágico nada mais é que o retorno do conteúdo do estômago, em direção ao esôfago, chegando até a atingir a boca. Normalmente o alimento ingerido devia seguir uma via de mão única, no processo de sua digestão. Boca-esôfago-estômago-intestino. O estômago tem líquido muito ácido, próprio para "derreter" os alimentos e prepará-los para a digestão adequada. O esôfago, no entanto, não está "equipado" normalmente para receber substâncias muito ácidas. Quando o refluxo ocorre, o esôfago é irritado, criando inflamação crônica, e até úlceras.
Os sintomas mais comuns são queimação na "boca do estômago" e na região central do tórax (atrás do coração), e a regurgitação de alimentos para a garganta ou a boca. Estes sintomas são geralmente intermitentes, crônicos, aparecendo em algumas situações, mas facilmente contornáveis com manobras ou medicamentos simples. No entanto, em muitos pacientes, o refluxo pode ser perigoso. A subida frequente do líquido do estômago para o esôfago pode causar lesões graves no esôfago, úlceras, e raramente câncer. Ao mesmo tempo, regurgitar este líquido até a garganta pode levar a irritação crônica neste local. Aliás, o refluxo é uma causa muito comum de tosse seca crônica. Quando fica intensa, às vezes o líquido regurgitado entra na traquéia, e é aspirado para os pulmões. Os pacientes podem desenvolver infecções brônquicas ou pneumonias de repetição.
Portanto, auto-medicação pode esconder um problema mais grave, que somente consegue ser adequadamente avaliado com consulta médica e orientação. O refluxo, por sinal, é fácilmente tratável na maioria das pessoas. Dificilmente curável, seu controle é rotineiro, e suas complicações geralmente evitadas de forma simples. Alterações de hábitos alimentares (não comer antes de deitar, e evitar hábitos ou alimentos que deflagrem os sintomas), evitar obesidade (a gordura intra-abdominal aumenta a pressão no estômago e força o líquido de volta em direção ao esôfago), além de medicamentos que aceleram o esvaziamento do estômago e fortalecem a contração do músculo que impede o retorno do líquido para o esôfago, são comumente suficientes.
Alguns pacientes, no entanto, precisam de tratamento cirúrgico para evitar o refluxo. Felizmente, penso que 5% dos pacientes com refluxo chegam a ser operados. E a operação, atualmente, pode ser feita através de videolaparoscopia, com pequenos furos no abdome e recuperação rápida. Apesar disso, a cirurgia deve ser detalhademente discutida com o médico. Apesar de raros, existem potenciais complicações ou efeitos colaterais ao procedimento que devem ser esclarecidos.
Um estudo recentemente publicado na presitgiosa revista Jama, por cientistas da Universidade de Nantes na França, comprovou a eficácia dos tratamentos, tanto medicamentosos quanto cirúrgicos, na maioria absoluta dos doentes. Estas opções terapêuticas são múltiplas e disponíveis em quase todos os hospitais no Brasil. No entanto, os cientistas franceses alertam que os tratamentos podem acarrretar efeitos colaterais em 10% a 24% dos pacientes. Recomendam que evitemos que pessoas com problema de fácil controle ignorem seu potencial de complicações e sejam tratados de forma inadequada.
Riad Younes é professor Livre Docente da Faculdade de Medicina da USP. Médico do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José e do Núcleo Avançado do Tórax do Hospital Sírio Libanês, São Paulo. Especialista em câncer de pulmão. Foi Diretor Clínico do Hospital Sírio Libanês de março 2007 a março 2011.
fonte: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5391689-EI18157,00-Os+perigos+do+refluxo+gastroesofagico.html
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