segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Portugal - Resistência bacteriana em creches chega a 9%

Estudo encontrou bactéria resistente em nove por cento das crianças em infantários 

10.10.2011 - 16:36 Por Andrea Cunha Freitas

Os narizes de 296 crianças de quatro infantários da Área Metropolitana do Porto foram inspeccionados. Em 49 por cento estava presente a comum bactéria Staphylococcus aureus (S. aureus) e em nove por cento destas crianças estava a bactéria resistente à meticilina conhecida por MRSA. “Não é razão para alarme mas é motivo para alerta”, referem os investigadores
Os hábitos de higiene nos infantários podem explicar as diferenças nos resultados do estudo (Pedro Cunha)

Os investigadores da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto encontraram uma grande variabilidade nos quatro infantários visitados. “Num infantário tivemos cerca de 90 por cento das crianças com a S. aureus e 22 por cento de MRSA e noutro local já tínhamos apenas 38 por cento de S. aureus e três por cento de MRSA”, conta a investigadora Paula Teixeira. Segundo explica, a diferença de valores entre os infantários pode ser um reflexo das práticas de higiene implementadas nesse local. “A implementação de boas práticas de higiene pessoal e ambiental é reconhecida como uma das formas mais eficazes de controlo de MRSA”, argumenta.

Os resultados do estudo apresentam a média possível das menos de 300 amostras recolhidas - em crianças entre os 3 e 6 anos e que não tinham tomado nenhum antibiótico ou sido internadas nos últimos três meses - com 49 por cento de S. aureus, das quais 9 por cento são MRSA e, por isso, resistentes a vários antibióticos. “Isto não quer dizer que as crianças com MRSA vão ficar doentes. Não tem problema nenhum. Mesmo nos casos de terem uma amigdalite ou outro tipo de problema que, eventualmente, seja causado por esta bactéria sabemos que existem alternativas terapêuticas”, refere Paula Teixeira. No entanto, a investigadora sublinha a importância de travar a disseminação na comunidade desta bactéria resistente ao tratamento com penicilinas e outros antibióticos - que inicialmente existia sobretudo em ambiente hospitalar e que agora é encontrada de forma crescente na comunidade.

Ainda que a amostra seja reduzida e apresente grande variabilidade, os resultados sobre a prevalência destas estirpes resistentes verificados nos quatro infantários do Porto não são vistos com “um bom indicador”. “Foi um princípio. Agora iremos aprofundar este estudo para que se tirem conclusões com validade científica”, adianta Paula Teixeira, referindo que as próximas visitas a infantários vão incluir, entre outras metodologias, uma avaliação sobre os hábitos de higiene. “Aquele hábito de assoar o nariz do menino e meter o lenço de papel no bolso para o próximo que precisar. Ou pior ainda, assoar vários meninos de seguida com o mesmo papel é inadmissível”, comenta a investigadora, sublinhando também a importância de lavar as mãos e os brinquedos usados no infantário e que, tantas vezes, as crianças levam à boca. Fica, porém, um aviso para os que eventualmente possam ser demasiado cuidadosos: “a utilização de detergentes antibacterianos deve ser equacionada apenas em casos extremos, na medida em que podem induzir o aparecimento de estirpes resistentes”.

Os futuros estudos da ESB da Católica do Porto vão também servir para sustentar a média obtida neste trabalho, até porque um estudo anterior – realizado na região de Oeiras – tinha revelado uma prevalência muito menor de S. aureus (17,4 por cento) e de MRSA (0,53 por cento). A S. aureus é uma bactéria patogénica associada a infecções ligeiras mas pode também causar infecções graves como pneumonias e septicemias. Estima-se que cerca de 40 por cento dos indivíduos saudáveis sejam portadores assintomáticos desta bactéria, principalmente na cavidade nasal.
 
fonte: http://www.publico.pt/Sociedade/estudo-encontrou-bacteria-resistente-em-nove-por-cento-das-criancas-em-infantarios-1515779

 

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