02/08/2013 - 09:36
Após um início modesto, como fábrica de corantes, a empresa transformou-se em indústria farmacêutica e até associou-se ao nazismo. Hoje, a multinacional é um dos principais pilares da economia alemã, conta a agência alemã DW.DE.
A multinacional alemã Bayer completa 150 anos de existência. Na cerimonia oficial do jubileu, a chanceler federal Angela Merkel classificou a empresa como símbolo da Alemanha enquanto plataforma de inovação e alta tecnologia.
No seu discurso, o presidente da multinacional, Marjin Dekkers, falou sobre o futuro, afirmando que o combate à fome e a doenças são prioridades para a Bayer. "Isso impulsiona ps nossos mais de 110 mil funcionários a cada dia".
Começo modesto
A 1 de Agosto de 1863, o comerciante Friedrich Bayer e o tintureiro Johann Weskott abriram uma pequena fábrica de corantes no bairro de Narmen, na cidade alemã de Wuppertal. Os negócios corriam bem. Um dos principais clientes era o Exército, que tingia os seus uniformes com os produtos da Bayer.
Para adquirir mais capital, em 1883 a firma transformou-se em sociedade anónima. Na acirrada concorrência pelos melhores corantes, logo passou a empregar formandos de Química, um curso universitário que fora criado recentemente.
"O direito de patentes, introduzido pouco mais tarde na Alemanha, reforçou ainda mais a posição dos químicos", conta o historiador económico e especialista da Bayer, Werner Plumpe, da Universidade de Frankfurt, em entrevista à DW.
Facto é que na Alemanha, já naquela época, uma patente só era concedida se ficasse comprovado que o processo a ser protegido era inédito. "Para tal, era preciso químicos experientes, que dispusessem do know-how necessário e, em caso de dúvida, também fossem capazes de contestar as patentes das concorrentes".
Aspirina e Leverkusen
A palete de produtos da empresa diversificou-se. Ao lado de corantes sintéticos, logo a Bayer começou a produzir medicamentos, com a ajuda do acaso. Da produção de tintas, resultavam resíduos sem utilidade aparente. Mas os químicos começaram a experimentar com as substâncias e acabaram por constatar que alguns subprodutos da produção de corantes eram úteis no combate a doenças – ou pelo menos para diminuir os seus sintomas.
Um dos remédios descobertos por esse caminho foi o famoso analgésico Aspirina, registado no Departamento Imperial de Patentes a 6 de Março de 1899. A Aspirina resulta do "processamento clássico de um dos produtos intermediários do ácido acetilsalicílico proveniente da produção de corantes", explica Plumpe.
Em 1895, a Bayer incorporou a pequena fábrica de corantes Carl Leverkus e Filhos, ganhando, assim, uma nova unidade de produção em Wiesdorf, ao norte de Colónia. Em 1912, a cidade de Leverkusen tornou-se a sede oficial da empresa.
Antes mesmo da Primeira Guerra Mundial, a Bayer S.A. já se tinha transformado num verdadeiro global player. Com fábricas e sucursais espalhadas pela Europa e em países como Brasil, Argentina, China, Japão e EUA, a multinacional empregava mais de 10 mil funcionários.
IG Farben a serviço dos nazis
A Primeira Guerra trouxe uma série de prejuízos, e poucos anos depois a Bayer perdeu a sua autonomia. Em 1925, a empresa de Leverkusen associou-se a outros grandes produtores químicos alemães numa "sociedade de interesses" (Interessengemeinschaft), a IG Farben.
Começava, assim, o capítulo mais sombrio da história da companhia. Quando, em 1933, os nazis assumiram o poder na Alemanha, todo o sector químico entregou-se a uma fatal dependência em relação à política do regime ditatorial – por pura ganância de lucros.
Produtos como a gasolina ou a borracha sintéticas desempenhavam um papel central nos planos armamentistas de Adolf Hitler. A IG Farben participava na produção do gás tóxico Zyklon B, que os nazis usaram para assassinar milhões de pessoas. No final de 1944, mais de 4 mil trabalhadores forçados trabalhavam somente na unidade de Leverkusen.
"O caso mais dramático é, seguramente, o da fábrica da IG Farben em Auschwitz, criada por pressão dos nazis", diz Pumpe. Segundo o especialista, a directoria da unidade não teve qualquer problema em empregar trabalhadores forçados recrutados nos campos de concentração.
"Vê-se que não existia mais qualquer barreira moral", diz o estudioso da história da Bayer. "Nenhum dos responsáveis falou: 'Não vamos participar disso'", completa. Após a Segunda Guerra Mundial, a IG Farben foi esfacelada, e os seus directores foram indiciados nos Julgamentos de Nuremberga.
Renascimento, golpes e afirmação
Em 1951, a Bayer foi refundada e logo retomou a sua trajectória de sucesso. Em 1994, conseguiu até comprar de volta o direito do uso do nome da companhia nos EUA, que perdera após a Primeira Guerra. Agora, ela voltava a apresentar-se no país usando a sua prestigiosa logo-marca, a cruz da Bayer.
No entanto, justamente nos EUA, numerosos doentes morreram após o tratamento com o redutor de colesterol Lipobay®. O escândalo abalou a multinacional ao ponto de, em 2001, ela considerar abandonar o ramo farmacêutico. Porém, isso não viria a ocorrer.
Hoje, o sector de saúde é o foco principal dos negócios da Bayer, sendo responsável por quase 50% da sua facturação. A empresa também produz sementes e herbicidas, e o seu terceiro pilar é a divisão de "plásticos de alta tecnologia", voltados para as indústrias automobilística, electrónica e de construção.
Com cerca de 110 mil funcionários em todo o mundo e quase 40 mil milhões de euros de facturação, a empresa está entre as líderes alemãs de produtos químicos e farmacêuticos. Ao lado da ThyssenKrupp, Siemens, Daimler e Basf, a Bayer é uma das multinacionais mais tradicionais do país.
Fonte: RCM pharma
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