A farmácia ou botica começou a existir desde que o homem primitivo passou a juntar raízes, folhas, cascas ou sementes que ajudavam a aliviar seus ferimentos e achaques
5 de agosto Dia Nacional da Farmácia
Homenagem ao meu filho Edson e aos sobrinhos Clemente e
Julieta, triúnviros que honram e dignificam a profissão abraçada.
** Edgard Steffen
O símbolo usado internacionalmente para indicar a profissão farmacêutica
é a figura de uma cobra enrolada em uma taça. É oriundo da Mitologia
Greco-Romana, e se relaciona à morte do deus da saúde Esculapio
(Asclepio para os romanos), fulminado por um raio lançado por Zeus
(Jupiter), que estava irado porque Esculapio usara o poder das ervas
para ressuscitar mortos. Sucessora do pai, Hygea (Salus) passou a ser a
deusa responsável pela saúde dos homens e adotou o cálice e a serpente
como símbolos de seu poder sobre as doenças.
A farmácia ou botica começou a existir desde que o homem primitivo
passou a juntar raízes, folhas, cascas ou sementes que ajudavam a
aliviar seus ferimentos e achaques. Guardava-as em segurança nos seus
abrigos ou as transportava em suas andanças nômades. Essa primitiva
"farmácia", devidamente atualizada, entrou no Brasil pelas mãos dos
jesuítas, que traziam alguns remédios em sua bagagem. Em Pindorama já
existia na cultura dos pajés.
O primeiro boticário registrado em nossa História chamava-se Diogo de
Castro, trazido pelo Governador Geral Tomé de Souza. Antes dele, os
habitantes do Brasil somente tinham acesso a medicamentos nas missões
dos jesuítas, ou quando expedições, legais ou ilegais, entravam em nossa
terra e se faziam acompanhar de algum cirurgião-barbeiro possuidor de
botica portátil. Da mesma forma que a assistência médica a distribuição
das farmácias é iníqua. Encontradas aos magotes, tropeçando uma nas
outras nos grandes centros, inexistem, ou são precárias, nas pequenas
comunidades e nos confins da Pátria amada salve, salve!...
Na primeira metade do Século XX, antes da expansão da indústria
farmacêutica, as boticas tinham layout semelhante. Na parte da frente,
exibiam remédios industrializados, produtos cosméticos, dietéticos e
perfumaria. Nos fundos, o laboratório frascos âmbar cuidadosamente
rotulados em tinta nanquim, balança de precisão, almofarizes e vidraria e
o espaço reservado a curativos e injeções. Onipresentes bancos de
madeira de lei serviam para fregueses esperarem aviamento das fórmulas
receitadas e aos amigos correligionários para discutirem a política
local. Muita eleição se ganhou (ou se perdeu) por influência dos
boticários.
Onde houvesse médicos haveria também farmácias e farmacêuticos (práticos
em sua maioria). Médicos eram (e ainda são) proibidos de serem
proprietários de boticas. Informalmente, ao sabor das empatias,
simpatias e militância partidária, médicos demonstravam sua preferência
por esta ou aquela farmácia local, e o resultado nem ilegal nem imoral
refletia-se no lucro de estabelecimento.
O recente quiproquó* entre a classe médica e o governo, este propondo a
importação de médicos sem o exame de proficiência, lembrou-me velho
farmacêutico honesto e trabalhador. Depois de muitos anos de labuta como
prático, economizou uns cobres e montou farmácia própria. A
concorrência era grande e o negócio não prosperava. Mandou então buscar
um parente médico, que se formara na Itália e andava sofrendo agruras do
pós-guerra. Pagou-lhe a passagem, inscreveu-o no exame de convalidação
do diploma; aprovado, ajudou-o a instalar-se no município. Cavoucando o
fundo do bolso, o boticário pagou o traslado do resto da família.
Não teve tempo para comemorar. Depois de alguns dias na cidade, a "mamma" falou para o marido "Qui io non voglio vivere!".
E foram embora...
(*) Quiproquó nome de livro que existia nas farmácias para indicar as
substâncias que deveriam substituir as receitadas pelo médico, caso a
farmácia não as possuísse. Por extensão: engano, erro que consiste em
tomar-se uma coisa por outra, equívoco. Por metonímia. A confusão criada
por esse engano (Houaiss)
** Edgard Steffen é médico pediatra e escreve aos sábados neste espaço - edgard.steffen@gmail.com
Homenagem ao meu filho Edson e aos sobrinhos Clemente e
Julieta, triúnviros que honram e dignificam a profissão abraçada.
** Edgard Steffen
O símbolo usado internacionalmente para indicar a profissão farmacêutica é a figura de uma cobra enrolada em uma taça. É oriundo da Mitologia Greco-Romana, e se relaciona à morte do deus da saúde Esculapio (Asclepio para os romanos), fulminado por um raio lançado por Zeus (Jupiter), que estava irado porque Esculapio usara o poder das ervas para ressuscitar mortos. Sucessora do pai, Hygea (Salus) passou a ser a deusa responsável pela saúde dos homens e adotou o cálice e a serpente como símbolos de seu poder sobre as doenças.
A farmácia ou botica começou a existir desde que o homem primitivo passou a juntar raízes, folhas, cascas ou sementes que ajudavam a aliviar seus ferimentos e achaques. Guardava-as em segurança nos seus abrigos ou as transportava em suas andanças nômades. Essa primitiva "farmácia", devidamente atualizada, entrou no Brasil pelas mãos dos jesuítas, que traziam alguns remédios em sua bagagem. Em Pindorama já existia na cultura dos pajés.
O primeiro boticário registrado em nossa História chamava-se Diogo de Castro, trazido pelo Governador Geral Tomé de Souza. Antes dele, os habitantes do Brasil somente tinham acesso a medicamentos nas missões dos jesuítas, ou quando expedições, legais ou ilegais, entravam em nossa terra e se faziam acompanhar de algum cirurgião-barbeiro possuidor de botica portátil. Da mesma forma que a assistência médica a distribuição das farmácias é iníqua. Encontradas aos magotes, tropeçando uma nas outras nos grandes centros, inexistem, ou são precárias, nas pequenas comunidades e nos confins da Pátria amada salve, salve!...
Na primeira metade do Século XX, antes da expansão da indústria farmacêutica, as boticas tinham layout semelhante. Na parte da frente, exibiam remédios industrializados, produtos cosméticos, dietéticos e perfumaria. Nos fundos, o laboratório frascos âmbar cuidadosamente rotulados em tinta nanquim, balança de precisão, almofarizes e vidraria e o espaço reservado a curativos e injeções. Onipresentes bancos de madeira de lei serviam para fregueses esperarem aviamento das fórmulas receitadas e aos amigos correligionários para discutirem a política local. Muita eleição se ganhou (ou se perdeu) por influência dos boticários.
Onde houvesse médicos haveria também farmácias e farmacêuticos (práticos em sua maioria). Médicos eram (e ainda são) proibidos de serem proprietários de boticas. Informalmente, ao sabor das empatias, simpatias e militância partidária, médicos demonstravam sua preferência por esta ou aquela farmácia local, e o resultado nem ilegal nem imoral refletia-se no lucro de estabelecimento.
O recente quiproquó* entre a classe médica e o governo, este propondo a importação de médicos sem o exame de proficiência, lembrou-me velho farmacêutico honesto e trabalhador. Depois de muitos anos de labuta como prático, economizou uns cobres e montou farmácia própria. A concorrência era grande e o negócio não prosperava. Mandou então buscar um parente médico, que se formara na Itália e andava sofrendo agruras do pós-guerra. Pagou-lhe a passagem, inscreveu-o no exame de convalidação do diploma; aprovado, ajudou-o a instalar-se no município. Cavoucando o fundo do bolso, o boticário pagou o traslado do resto da família.
Não teve tempo para comemorar. Depois de alguns dias na cidade, a "mamma" falou para o marido "Qui io non voglio vivere!".
E foram embora...
(*) Quiproquó nome de livro que existia nas farmácias para indicar as substâncias que deveriam substituir as receitadas pelo médico, caso a farmácia não as possuísse. Por extensão: engano, erro que consiste em tomar-se uma coisa por outra, equívoco. Por metonímia. A confusão criada por esse engano (Houaiss)
** Edgard Steffen é médico pediatra e escreve aos sábados neste espaço - edgard.steffen@gmail.com
Notícia publicada na edição de
03/08/13 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A - o
conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as
12h.
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