07/04/2013 - O Estado de S.Paulo |
Jornalista: Lígia Formenti |
Um
dos campeões de vendas nas farmácias e da automedicação, os
anti-inflamatórios estão na mira das sociedades médicas. Com aumento de
complicações e atendimentos de urgência provocados pelo uso inadequado,
algumas entidades passaram a defender uma mudança na forma da
prescrição. A proposta é que todos os medicamentos dessa classe sejam
vendidos com a retenção de uma cópia da receita. "É preciso fazer algo. Boa parte dos atendimentos de urgência, como hemorragias e lesões agudas gástricas, é provocada pelo uso exagerado do remédio", afirma o presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia, José Roberto Almeida. "Somos uns dos campeões mundiais no uso dessa classe de medicamento. Eles são importantes, úteis, mas quando usados de forma adequada", afirma o diretor médico do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Anthony Wong. Um dos principais erros, diz Wong, é usar anti-inflamatórios como ferramenta para reduzir a dor. "O remédio não foi desenvolvido com essa finalidade." Ele atribui a grande incidência de complicações ao desconhecimento das interações que o medicamento pode trazer. "Geralmente esse tipo de remédio é usado por pessoas idosas, que já têm outros tipos de problemas." A ideia, portanto é estabelecer como regra geral para todos os anti-inflamatórios o que já acontece com alguns medicamentos da classe e todos os antibióticos. O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano, afirma que pedidos de regras mais rígidas já chegaram à agência. "Por enquanto temos outra prioridade. Não acreditamos que o comportamento possa ser mudado só com o aumento de restrições." Barbano diz que a agência quer encontrar mecanismos para fazer valer uma regra antiga, mas que raramente é respeitada: a necessidade da apresentação da receita para remédios de tarja vermelha. Em fevereiro, a Anvisa publicou pela segunda vez um edital para interessados em participar de uma força de trabalho encarregada de estabelecer medidas para estimular o uso racional de medicamentos. Cerca de 120 inscrições foram feitas. A expectativa é a de que até o fim do ano uma política já esteja traçada. A intenção é alertar a população sobre os riscos da automedicação, chamar a atenção dos locais de venda para a necessidade do cumprimento das regras e reforçar a vigilância. "Vamos alertar todos os setores envolvidos, discutir estratégias de tal forma que, quando a cobrança começar a ser feita, ninguém possa dizer que não estava preparado." O presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini, considera acertada a estratégia da Anvisa. "Toda venda de medicamento com tarja deve ser feita mediante a apresentação da receita." Para ele, a automedicação tem de ser reduzida não com mais burocracia, mas com a criação de campanhas de esclarecimento. Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, concorda. "É preciso exigir receita, mas também garantir o acesso da população a atendimento médico", disse. "Enquanto o acesso for difícil, as pessoas vão recorrer ao palpite da vizinha ou aos medicamentos sugeridos nas farmácias." Roberto Almeida diz que atividades educativas são imprescindíveis. "Se isso não funcionar, é preciso pensar em algo mais restritivo." Vendas. Em 2012, 129.279 caixas de anti-inflamatórios foram vendidas no País, segundo o levantamento feito pelo Sindusfarma e IMS Health. Essa classe de medicamentos, representa 4,9% da movimentação do setor. Em 2010, haviam sido vendidas 106.043, ou seja, uma alta de 21,9% em dois anos. "Houve um aumento, mas equivalente ao crescimento que ocorreu no mercado neste período", diz o presidente do sindicato. Em 2012, foram vendidas no País 2.587.868 caixas de remédios, uma alta de 25% em comparação ao total de 2010 (2.069.607). |
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Médicos agora miram anti-inflamatório
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