quarta-feira, 6 de abril de 2011

[Off topic] Evolução Policial - Por Capitão Franco PMGO‏

EVOLUÇÃO POLICIAL?!
Eu sou um policial!... Antiquado?
Hoje vejo que estou ficando velho, apesar da pouca idade, 30 anos, sendo 13 na Polícia Militar do Estado de Goiás;

De uns tempos pra cá, me vi ficando ultrapassado, obsoleto, arcaico;

E quando me deparei com tudo, o mundo caía em cima dos policiais antiquados sem que eles percebessem, pois não evoluíram no tempo e não atenderam aos anseios polít... quer dizer, da sociedade e da imprensa;

Hoje estou reformulando meus pensamentos, tomando novos rumos, aprendendo novas formas de posturas para que eu não troque de lugar no banco dos réus com o ladrão, pois é ele quem lá deve estar, não eu.

Sou um policial antiquado, da antiga ROTAM, do antigo “Manto Negro Sagrado”, da antiga Doutrina. Depois de virar Oficial e ter experiência em diversos batalhões da PM, achei que estava maduro para entrar em uma tropa de elite que tinha admiração e que resolvia os problemas da Segurança Pública e que quando o “bicho pegava”... ahh meu irmão...Comandantes Gerais e população se dirigiam até nós e diziam: Agora é com vocês!

Sou antiquado, pois fui formado em uma tropa de elite na época em que ainda haviam “bombetas” que servem para não distinguir ou beneficiar ninguém durante o curso, além de dar espírito de corpo “sine qua non” a uma equipe, pois na hora de uma troca de tiros (só quem já trocou tiros vai me entender), ali não existe Soldado e nem Coronel, ali existe uma equipe Coordenada pelo Comandante da Operação, doutrinada e memorizada que sabe agir sobre pressão e stress, pois o curso nos preparava para isso, submetiam policiais a privação de sono e de comida para simular uma situação parecida com uma troca de tiros.

Não entenderam? Explico: Desde a antiguidade, os homens das cavernas se viam sob stress quando os dinossauros colocavam as vidas deles em risco, assim, pela lei da sobrevivência, o corpo humano, inteligentemente, libera uma substancia chamada adrenalina e concentra o sangue nos grandes músculos, possibilitando ao homem realizar atividades musculares que sem tal stress não conseguiriam, fazendo com que eles transpusessem obstáculos maiores e corressem mais rápido, tendo como conseqüência a falta satisfatória de sangue no cérebro. Daí, quando nos vemos sob stress não raciocinamos, nem pensamos adequadamente. Numa troca de tiros acontecem reações físicas equiparadas á essa explicada do homem das cavernas. Então o policial tem que ser acostumado a pensar com falta de sangue necessário para um bom desempenho de raciocínio. Quando atiramos em um papel, num treino de tiros, sabemos que ele não vai reagir, pois é apenas um alvo de papel. Porém a situação em que mais se assemelha fisiologicamente falando a um stress de troca de tiros real com marginais é, no curso, privando o policial de sono, comida e descanso satisfatórios, para que acostume a raciocinar de forma razoável nas horas em que a adrenalina estiver á tona. Assim, ele passa por essas provas de auto controle em uma pista de tiro em que está atirando no alvo de papel, porém sob muita pressão do instrutor, além de estar fragilizado pela privação de tais necessidades fisiológicas já descritas anteriormente que é o que mais se assemelha fisiologicamente falando a uma situação real.

E ainda temos que escutar “especialistas” dizerem que essas privações seriam torturas nos cursos. Os policiais que ali passavam não são obrigados a fazerem nada e a qualquer momento podem desistir e voltam a condição de não-alunos, voltando a ser respeitadas todas as prerrogativas inerentes aos seus postos ou graduações. Não havia humilhação, nem desrespeito ao ser humano. Eu passei pelo curso e todos os que passaram agradecem, pois se tornaram melhores profissionais, muito mais bem preparados, com auto-controle maior. Se isso for tortura, também há tortura em um “Big Brother” desses da vida em que para uma prova do tal “Líder”, a pessoa fica 12 horas em pé pela madrugada, sendo ensaboada ao lado de um veículo, recebendo água, e jato de ar frio, batendo os queixos. Aí você me diz: “Ah, mas no Big Brother, as pessoas podem sair quando quiserem das provas e não são obrigadas a se submeterem aquilo”. Então eu respondo da mesma forma: No “arcaico” Curso Operacional de ROTAM, os policiais podem sair a qualquer hora e não são obrigados a se submeterem a privação de conforto algum. Aquele curso era de especialização, não de formação.

Estes “especialistas em segurança pública” nunca vieram nos perguntar por que acontecia aquilo. Aliás, não sei onde estes indivíduos que se intitulam “Especialistas em Segurança Pública” arrumaram tal nomenclatura. Acho que é porque eles leram uns três livros de Carl Marx ou de Max Weber, ou da SWAT americana ou de qualquer “The books on the table” enlatados americanos que vemos por aí, ou são donos de empresa de segurança privada que aliás, começam a ter um maior mercado com os últimos acontecimentos.

Especialista em Segurança Pública eu só conheço um tipo: é o policial, do Soldado ao Coronel, do Agente ao Delegado, que estão trabalhando há anos na atividade e que conhecem como ninguém as mazelas da sociedade e sabe lidar com cada tipo de pessoa, que sabe ser rústico quando precisa, mas também ser gentil com quem necessita. Então as polícias são uma instituição perfeita? Que beleza! Não senhores, há desvios de conduta também e não é todo policial que é especialista em segurança pública.
Voltando ao arcaísmo, eu sou um policial antiquado, daquele que quando ouvia uma ocorrência no radio para Norte, seguia para Norte em alta velocidade, com sirene e giroflex ligados, ordenando em nome da Ordem Pública para que os veículos que estivessem no caminho saíssem da frente...

...e criticado por isso, pois o senhor que estava transitando se assustava com quatro policiais em alta velocidade que estavam colocando a vida de terceiros em risco. Será que não estava tudo sob controle? Será que meus motoristas não eram profissionais?

...e criticado se demorei a chegar e não peguei os ladrões; é assim mesmo que eu os chamava: ladrões. Mas hoje fica agressivo os assim denominar. Agora são agressores da sociedade ou excluídos sociais. Por um ponto até que há grande razão nesta nova denominação, pois a cultura que eles tiveram não foi muito boa, foi de que precisariam roubar para sobreviver e que são excluídos do sistema aprendendo a terem ódio desde criancinha, quando cresceram ouvindo seus pais, (os que tiveram pais) escutarem raps dizerem frases concitando a violência contra a burguesia e contra policiais, como Racionais MC’s ou NDee

Naldinhos da vida: “Que ce qué? Viver pouco como um rei, ou muito como um Zé?” ou “Quando o meu povo tromba, o opressor soa frio e treme: Ra-tá-tá-tá no seu globo PM!”

Mas não é nossa missão divagar sobre o assunto. Há outros órgãos muito bem pagos para resolver esse problema cultural.Não cabe a mim saber o porque disso, apesar de ser necessário para entender o pensamento do ladrão e agir em cima de suas atitudes e seus erros, podendo antecipar suas ações, bem como saber o que fazem após seu delito para capturá-lo em sua “toca”, onde se dirige para esconder seus delitos.
...e criticado se cheguei rápido e peguei os ladrões com a “boca na butija” e embalados por substancias psicotrópicas aliadas as músicas que cresceram escutando, dão um “Ra-tá-tá-tá” em direção do “globo do PM”, PM esse que reage e por ser mais preparado e estar lúcido, além de estar em maior número, geralmente obtém êxito na troca de tiros e ouve nos noticiários, e lê nos jornais pessoas questionando as ações, em suas maiorias políticos de oposição aos governos (pois a PM é o braço armado do governo tendo como chefe o Governador do Estado) querendo ganhar votos em cima das mazelas humanas, sempre tendo interesses escusos($) em deturpar as ações policiais. E isso infelizmente forma opiniões de grande parte da população, pois é carente de informações mais detalhadas.
...e criticado, criticado, criticado!

Sou um policial antiquado, daqueles que no meu computador pessoal ainda há várias fotos de ladrões que estão vivos, que morreram, que tem passagem, que não tem passagem, pois como policial preciso conhecer meus alvos. Alvos? Sim, alvos! Hoje temos medo de proferirmos certo tipo de designações, mas alvo não é só o que se mira, é também o motivo principal, logo, pessoas que transgridem leis, são um dos motivos principais de minha atividade, é só procurar no dicionário seu significado. Aliás, hoje o policial tem medo de falar ou escrever muitas coisas e serem mal-interpretados. Um grande exemplo é um Deputado que elegemos que, quando não o era, foi várias vezes mal interpretado e retalhado. Temos medo também de termos fotos desses ladrões em nosso computador, pois acabam apreendendo numa dessas operações “capas de jornal” que há por aí, e ainda falam que no computador haviam várias fotos de ladrões que já morreram e várias fotos de ladrões vivos que estariam “marcados para morrer”! O policial moderno não tem isso em seu computador, pois não quer passar por essa infâmia de ser confundido com um exterminador. Logo, ele não conhece o rosto dos ladrões.

Sou um policial antiquado, pois virei piloto de helicópteros e como é popular no Brasil inteiro, o piloto policial só voa na “curva do homem morto” (jargão aeronáutico que se dá para um vôo com riscos em que se acontecer qualquer problema no vôo dificulta a correção por parte do piloto, diminuindo a chance de pouso sem lesões ou baixas).Mas, a chance de acontecer uma pane mecânica em uma aeronave do Estado com a manutenção rigorosamente em dias pode ser comparada as chances de se ganhar na Mega-Sena. Voava com essa atitude para patrulhar melhor, observar em melhor ângulo a placa do carro suspeito, aproximar mais e ver se um indivíduo em atitude suspeita está armado, tendo turbulências mecânicas na aeronave devido a baixa altura na cidade, mas com excludentes e responsabilidade, ficando mais vulnerável a intempéries do voo somente para ter o prazer do dever cumprido e saber que nada passou em vão aos olhos dos patrulheiros naquele dia. O piloto policial moderno somente voa em altura confortável para, se acontecer alguma pane na aeronave, poder pousar com segurança. Não interessa se vai dificultar o patrulhamento mantendo os alvos mais distantes (Isso mesmo, alvos, como já explicado anteriormente). Explico aos leigos: quanto mais rápido e mais alto, mais seguro o vôo, e inversamente proporcional, quanto mais baixo e mais lento, propício para um patrulhamento de qualidade, mais perigoso é o vôo aeronauticamente falando.

Sou policial antiquado daqueles que sabem pra onde o ladrão vai quando acontece um roubo, de acordo com a forma que ladrão agiu, o local do roubo, e o produto do roubo. Sei até o nome do ladrão que rouba em cada área, com cada característica peculiar, sabendo até onde ele mora, usurpando minha função e investigando de certa forma o crime para chegar ao autor ali no calor da ocorrência, pois me sinto envergonhado em ver um dono de comércio assaltado e eu chegando lá e nada podendo fazer a não ser registrar o B.O.. Sou o arcaico que se sente incompetente se não ir atrás de quem cometeu esse delito até as últimas conseqüências, pois vejo nos olhos do comerciante dizer: -“Pago seu salário e você não me dá segurança. Sua obrigação é descobrir isso pra mim”. Assim vou lá eu, arcaico, procurar informações sobre o ocorrido e fazer incursões atrás dos ladrões, usurpando meu dever constitucional que é somente de fazer o patrulhamento preventivo ostensivo e transmitir sensação de segurança para a sociedade. Mas já ouvi Magistrados falarem: “O Direito não é matemático, essa é a grande magia!” Será que essa sensação de segurança que é minha obrigação constitucional não engloba essa pronta resposta em ir tentar descobrir quem foi que assaltou a Casa Lotérica Boa Sorte? Mas estou me reformulando, pois depois do acontecido roubo, se eu não o vir, acaba ali minha competência constitucional, aconselho o dono da lotérica a procurar o Distrito Policial Civil da área para que eles tomem providencias.

Sou tão antiquado, que quando estou parado em minha viatura, logo fico encostado nos muros para não ser surpreendido por um mal-feitor e perder meu armamento, ou ser rendido por ele, e quando uma pessoa se aproxima, logo já me guarneço, guardada a devida educação de direito, porém há uma área em que a pessoa não pode passar para não comprometer minha segurança, então determino que a mesma desvie seu caminhar daquela área. Isso está nas entrelinhas da “arcaica” Doutrina de ROTAM.

Sou tão arcaico que ainda sou do tempo em que o ROTAM Comando saía em comboio com todas as viaturas no início do serviço, passando nos mais variados locais, para demonstrar á população que a polícia estava lá, mostrando força e propiciando segurança a quem paga meu salário. O policial moderno, se sair em comboio, não pode mais passar em algumas áreas restritas, pois certo tipo de segmento da sociedade se assusta e se sente ameaçado. Esse comboio era previsto na “arcaica” Doutrina de ROTAM. Talvez, eu esteja lunático achando que demonstrava segurança, e na verdade demonstraria ameaça. Talvez...Será? Se for, peço desculpas as milhares de pessoas que devem ter se sentido ameaçadas quando nos anos de 2006 e 2007 eu comandava comboios de ROTAM no início do serviço, achei que transmitia segurança.

Estou revendo meus conceitos, me reciclando e adaptando a nova roupagem da segurança pública em Goiás. A sociedade, apesar de não ser especialista sobre segurança pública, é quem dita os rumos que devemos tomar, pois paga nosso salário e como agora o que ela está ditando é esse, de missão somente constitucional, então que o cumpramos!

Sou um policial antiquado, que escreve e assina embaixo, me expondo a ser julgado ou mal interpretado em troca de que? De nada, apenas de defender pontos que considero cruciais em minha instituição. Alguns policiais modernos escrevem textos apócrifos e usam a internet para divulgá-lo como andamos vendo por aí, apesar de não conseguirem esconder suas identidades, ou ficam calados vendo

tudo passar e nada fazendo para não ser prejudicado. Talvez esses são quem estejam certos! Mas há um porém: ainda tenho caráter, vergonha e defendendo minha instituição com conhecimento, sem receber nada em troca, somente pelo prazer de ver o nome da Polícia Militar do Estado de Goiás bem.

Fazendo uma analogia, podemos comparar um policial antiquado com um moderno da seguinte forma: O antiquado é igual aos jogadores da era romântica do futebol: jogavam pelo amor á camisa; O moderno é o jogador da atualidade: joga pelo amor a si mesmo.

Não confundam este texto como político, pois não o é. O policial antiquado não escreve textos políticos, escreve textos institucionais. Ele sempre é Governo, pois o Governo é seu chefe. O policial moderno, esse sim, só escreve textos político-pessoais.

Aos nossos chefes maiores, Governador, Secretário de Segurança Pública, e Comandante Geral, aos quais sempre nos colocamos á disposição e sabemos o quão é delicado o momento, peço a Energia Divina que os ilumine para tomarem as atitudes mais acertadas e justas.

Policial antigo: Defende a sociedade, depois se defende;
Policial moderno: Se defende, depois a sociedade.
Quem é o correto? Só o tempo irá dizer.

Goiania,Go aos 27/03/2011

Benito Franco Santos – Capitão do Quadro de Oficiais da PMGO

“Especialista em Segurança Pública”
Curso de Formação de Oficiais – Academia de Polícia Militar de Goiás,
Curso de Segurança VIP, de Instalações Físicas e Dignitários - PMGO
Curso de Policiamento Comunitário - PMGO
Agente de Apoio Psicossocial – Hospital da Polícia Militar de Goiás
Instrutor de Tiro Policial Defensivo – PMGO
Instrução de Nivelamento e Conhecimento – Força Nacional de Segurança Pública - João Pessoa, PB
Curso Operacional de ROTAM – Rondas Ostensivas Táticas Metropolitana PMGO
Socorrista em Emergencia Aeronáutica em Aeródromo – Base Aérea de Anápolis
Piloto Comercial de Helicópteros – Aeroclube de São Paulo e EDRA Aeronáutica
Policial Destaque 17ª CIPM-2003
Medalha de 10 anos de bons serviços prestados
Integrante da Força Nacional de Segurança Pública no Pan-Americano Rio 2007 – Rio de Janeiro
Medalha 150 anos PMGO
Medalha de Destaque Operacional grau Bronze
Medalha de destaque Operacional grau Prata
Medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludouvico Teixeira
Instrutor de Doutrina e Abordagens Táticas do antigo Curso Operacional de ROTAM.

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