segunda-feira, 13 de maio de 2013

Farmacêutico clínico ajuda a evitar problemas com medicamentos

Por Bruna Romão - bruna.romao.silva@usp.br

Estudo envolveu meses de monitoramento de pacientes idosos
A participação de farmacêuticos no processo de decisão sobre a receita médica de pacientes idosos pode trazer benefícios para as equipes médicas, contribuindo para o tratamento e para a redução da ocorrência de problemas relacionados a medicamentos (PRMs) nas enfermarias hospitalares. “Prescrições não apropriadas aos idosos têm sido observadas e se constituem em um grave problema de saúde pública”, diz o farmacêutico Mário Henrique Tomassi, farmacêutico do Serviço de Farmácia do Hospital Universitário (HU) da USP.

Em pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, Tomassi monitorou, de abril a setembro de 2011, uma equipe de saúde do HU responsável por pacientes da terceira idade da clínica médica da instituição. “Eu me integrei a um dos grupos, acompanhando visitas médicas e atividades desenvolvidas para a evolução clínica dos pacientes”, conta. Durante o estudo, ele buscou não apenas identificar eventuais problemas com as receitas, como também intervir quando necessário para evitar a sua ocorrência.
Foram acompanhados 28 pacientes da enfermaria do HU, com idade média de 70 anos, hospitalizados devido a complicações relacionadas a doenças crônicas ou acometidos por alguma infecção. “Em geral, o paciente permanecia internado por volta de dez dias, fazendo uso de extensa polifarmácia (uso concomitante de mais de 5 medicamentos) e, em alguns casos, de polifarmácia extrema (10 ou mais fármacos)”, relata o pesquisador. A pesquisa abrangeu a avaliação de prontuários e 100 prescrições aleatórias.

Problemas identificados
Nas prescrições, foram encontrados, ao todo, 924 problemas, sendo 920 erros de medicação (EMs) e 4 possíveis reações adversas a medicamentos (RAMs), uma confirmada clinicamente. No entanto, ressalta o farmacêutico, é fundamental diferenciar as variadas ocorrências. “Esses problemas podem estar relacionados a RAMs, consideradas não evitáveis e que sempre produzem dano ao paciente, ou EMs, considerados evitáveis e que podem ou não causar danos”, esclarece.
Os erros mais frequentes eram terapêuticos (46,5%) e administrativos e de procedimento (42,7%). “No primeiro caso destacavam-se as interações medicamentosas potenciais (28,7% do total) e no segundo, erros de caráter geral (28,0%), como o não cumprimento das regras de prescrição segura da American Society of Health-System Pharmacists [ASHP] e da própria instituição”, especifica o pesquisador.

Entre os erros de caráter geral estavam faltas de espaço entre dose e unidade, receitas fora do sistema internacional de medidas, itens rasurados, prescrição de medicamentos pelos seus nomes comerciais e não genéricos, como determina o Sistema Único de Saúde (SUS), entre outros. Além disso, medicamentos potencialmente inapropriados para idosos foram administrados à 21,4% dos enfermos. Embora a maior parte dos erros tenha sido classificada como “sem prejuízo para o paciente”, Tomassi destaca que “a informação que não é bem encaminhada pode ser interpretada de maneira errada” e ter efeitos mais graves.

Intervenções farmacêuticas
Nas atividades junto à equipe médica, Tomassi realizou 143 intervenções em 73 prescrições. A intervenção farmacêutica clínica está ligada a algo chamado de farmacovigilância ativa, que se dá pela procura, em tempo real, de problemas relacionados a medicamentos, o que pode alterar o desfecho do caso. Ele explica a atividade: “Farmacêuticos hospitalares podem ter um papel na melhora do tratamento por meio de uma revisão medicamentosa colaborativa, um processo em que o profissional avalia os medicamentos dos pacientes e sugere mudanças sujeitas à concordância do médico responsável.”

Além da integração do profissional farmacêutico às equipes médicas, a pesquisa aponta outras mudanças para atenuar problemas com prescrições, como melhora da comunicação entre a equipe, melhor aproveitamento de ferramentas eletrônicas para gerenciamento e controle de receitas e dispensação e administração de medicamentos, incorporação de protocolos clínicos à rotina hospitalar e educação continuada aos profissionais da saúde.

Imagem: Marcos Santos/USP Imagens

Fonte: USP


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