Ana Paula Pontes e Bruna Menegueço
A pesquisa, publicada no Journal of Pediatrics, revelou que mais de 453 mil crianças foram intoxicadas por medicamentos entre 2001 e 2008, representando um aumento de 28% desse tipo de acidente. Durante o período, 66 mortes foram registradas. Entre os remédios mais comuns tomados pelas crianças estavam analgésicos, aqueles para dormir e outros para problemas cardiovasculares. Outro dado do estudo mostrou que em casa e na casa de amigos e parentes eram os locais onde elas encontravam os remédios com facilidade, como nos balcões da cozinha, cômodas e criados-mudos.
Segundo Rosany Bochner, pesquisadora e coordenadora do SINITOX - Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (um órgão da FioCruz e do Ministério da Saúde), as crianças menores, na faixa de 2 a 3 anos, são as principais vítimas. "Eles são muito curiosas e querem colocar tudo na boca, o que faz parte do desenvolvimento. Além disso, os medicamentos da linha pediátrica possuem embalagens coloridas e cheirosas, que estimulam os sentidos da criança", diz.
Um outro exemplo são os xaropes, que tem sabor agradável ao paladar infantil. Se observarmos bem, as embalagens não têm nenhuma proteção. "Elas deveriam ter lacres ou travas de segurança para dificultar a ação das crianças", afirma a coordenadora. Por isso que a melhor prevenção ainda é deixar os remédios em um local inacessível para as crianças.
De olho na dosagem certa
A intoxicação, no entanto, não acontece só quando a criança toma remédio sozinha. Na hora de os pais medicarem os filhos o risco existe, em especial quando a medida é feita com base em uma colher de sopa, de sobremesa, de café. Foi essa questão que levou o pesquisador Amadeu Roselli Cruz, do departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, a medir a capacidade de dezenas de colheres, compradas em seis capitais brasileiras. O estudo, publicado em 2010, revelou que a maioria dos medicamentos líquidos é ingerida em dosagens incorretas, pois não há padronização das medidas indicadas nas bulas e nas prescrições médicas. Roselli mediu e comparou a capacidade de 60 colheres de sopa, sobremesa, chá e café, compradas em Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza, Natal e Rio de Janeiro. Foram encontradas diferenças volumétricas de até 500%, o que significa que a utilização dessas medidas pode resultar em superdosagens ou subdosagens de medicamentos. A superdosagem de medicamentos pode causar intoxicação por medicamentos. Já a subdosagem de antibióticos pode propiciar a resistência bacteriana.
A melhor solução é pedir ao pediatra fazer a prescrição em mililitros e usar uma seringa ou um copo dosador para medir com exatidão a dose do remédio. “No caso de medicamentos em gotas, nunca pingue diretamente na boca da criança porque sempre vai cair uma gota a mais e de gota em gota, o organismo pode se intoxicar”, diz a pediatra Égle Thomaz Leôncio, do Ambulatório de Pediatria da Universidade Cidade de São Paulo.
Quais os principais motivos para a intoxicação?
1) Automedicação! Manter a famosa "farmacinha" (dentro de casa) pode ser perigoso para toda a família. Simplesmente, porque a sobra dos medicamentos utilizados em tratamentos anteriores já constitui um fator de risco para a criança que os encontrar. Portanto, os remédios devem ser mantidos fora do alcance das crianças, e de preferência em locais trancados. Fique de olho também quando for visitar algum amigo ou parente!
2) O erro na administração de remédios é mais comum do que a gente imagina. Então, observe a medida exata do copinho ou use uma seringa dosadora.
3) Contraindicações! O desconhecimento das alergias é uma das causas mais frequentes de intoxicação por remédios. Sempre que o médico perguntar se o seu filho tem alguma alergia, não tenha vergonha se não souber o que é. Peça para o profissional lhe explicar, até você entender completamente o que ele está dizendo.
4) Os pais devem estar atentos para não confundirem a embalagem primária (a capa) do remédio com outros medicamentos de cor e tamanho similares.
5) Lembre-se que "letra de médico" tem fama de ser ilegível. Portanto, saia do consultório com a certeza de que entendeu o nome da substância que seu filho vai tomar. Não se acanhe em refazer a pergunta uma, duas ou três vezes. Pois o farmacêutico não é especialista em caligrafia e, até mesmo ele, poderá confundir o nome exato das substâncias.
6) Por último: o medicamento deve ser tomado sempre com água.
Como reagir em casos de intoxicação?
Se a substância tóxica ingerida estiver entre solventes, querosenes, ácidos ou cáusticos, leve a criança imediatamente a um pronto-socorro. Nunca force o vômito ou use fórmulas caseiras. Ligue para um dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIAT) pelo telefone de cobertura nacional - 0800 722 6001. Só assim você poderá receber as orientações adequadas e, na maior parte das vezes, resolver o problema dentre da sua própria casa. No entanto, se eles concluírem que o caso é mais grave, procure um pronto-socorro e leve os produtos que a criança ingeriu em mãos. Importante: Os CIATs estão espalhados por 19 estados do Brasil e, também, no Distrito Federal. Os telefones de cada um dos CIATs encontram-se no site da Fundação Oswaldo Cruz (www.fiocruz.br).
Fonte: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI266509-16891,00-INTOXICACAO+EM+CRIANCAS+POR+MEDICAMENTOS.html
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