São localidades que foram rejeitadas por profissionais
brasileiros e demais estrangeiros na primeira fase do programa voltado
para reduzir o déficit de médicos no interior e nas periferias
Infiltrações,
rachaduras, mofo, estruturas enferrujadas, equipamentos quebrados, salas
improvisadas, banheiros interditados e remédios jogados ao chão fazem
parte do cenário que os médicos cubanos encontrarão na semana que vem em
unidades de saúde de diferentes municípios do país.
A situação
foi flagrada pela Folha em postos de saúde de cidades da região
metropolitana de Porto Alegre e do interior de Minas Gerais, da Bahia e
de Pernambuco. O governo federal diz que irá bancar a reforma das
unidades.
Os locais
visitados pela reportagem fazem parte do grupo de 206 municípios, de 18
Estados, que irá receber os primeiros médicos cubanos.
São
localidades que foram rejeitadas por profissionais brasileiros e demais
estrangeiros na primeira fase do programa voltado para reduzir o déficit
de médicos no interior e nas periferias.
Essas realidades revelam municípios na contramão das regras do Mais Médicos.
Em julho, quando anunciou o programa, o Ministério da Saúde apontou como responsabilidade das prefeituras o fornecimento de "condições adequadas" para o trabalho dos médicos" participantes do programa federal.
Em julho, quando anunciou o programa, o Ministério da Saúde apontou como responsabilidade das prefeituras o fornecimento de "condições adequadas" para o trabalho dos médicos" participantes do programa federal.
Entre as
exigências aos municípios estão postos e unidades de saúde "com
segurança e higiene", "fornecimento de equipamentos necessários",
"instalações sanitárias" e "mínimas condições de conforto para o
desempenho das atividades" médicas.
Um contraexemplo do que está no papel é Frei Miguelinho, no agreste de PE.
A mesa
reservada ao médico cubano está enferrujada, assim como a escadinha
usada pelos pacientes para alcançar a mesa de exames.
No local, a
geladeira que deveria guardar vacinas está quebrada há seis meses, e os
dois banheiros não têm água há pelo menos um ano.
O jeito então
foi improvisar: a água para descarga fica em baldes destampados na sala
da enfermeira. E esse mesmo banheiro também é usado como depósito para
materiais de limpeza.
A situação
não melhora na
minúscula unidade de apoio, a 7 km do posto de saúde
principal do distrito de Capivara. Lá, as vacinas chegam em isopor
porque, como um cartaz na porta avisa, a geladeira está desativada.
Além da
estrutura, o acesso a postos de saúde na zona rural será um problema
para os cubanos. Na última quinta-feira, por exemplo, a Folha não
conseguiu chegar ao posto na zona rural de Salgadinho (PE). Chovia, e a
estrada de terra que leva à unidade estava intransponível.
"A estrutura
não está conservada. A manutenção não vinha acontecendo há anos", diz
Fátima Lopes, secretária de Saúde de Passira (PE), cidades que receberá
três cubanos e cujos postos têm sinais de mofo e infiltrações.
Na Bahia, na
unidade de um distrito de Araci, a última faxina foi há três meses.
Equipamentos estão quebrados, e a sala de armazenamento de remédios tem
caixas acumuladas no chão.
"Toda semana a
gente tem ao menos um dia sem água. Não tem ambulância. O desfibrilador
não está funcionando. Se chegar alguém com parada
[cardiorrespiratória], a gente vai orar, e só", diz a médica Tamillys
Figueiredo, 26.
Estrutura
precária também é realidade na unidade de Campo de Santana, distrito da
mineira Prudente de Morais (MG). O médico cubano encontrará um posto
deteriorado, com partes das paredes e do teto sem reboco e com trincas
que assustam moradores e funcionários.
O posto
funciona há 20 anos em uma casa da prefeitura. "É uma precariedade
danada em relação às novas unidades. A gente reconhece", disse o
secretário local de Saúde, Deivisson Melo.
Em Sapucaia
do Sul (RS), o cubano atuará em um posto que funciona em um puxadinho de
uma escola municipal. O espaço é apertado, e a estrutura, escassa: três
salas, um ambulatório, uma sala de vacinas e uma cozinha.
Segundo o
Ministério da Saúde, todas as unidades onde atuarão profissionais do
Mais Médicos irão receber recursos para requalificação até o fim de
2014. O governo promete R$ 15 bilhões.
OUTRO LADO
As prefeituras admitem os problemas de estrutura e dizem que aguardam ajuda federal para resolvê-los.
Fonte: JL/Folha
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