quarta-feira, 15 de junho de 2011

Brasil consome metade da sibutramina vendida em todo o mundo


15/06/2011 20h24

Brasil é responsável pelo consumo de cerca de 50% da sibutramina vendida em todo o mundo, além de ocupar o terceiro lugar no ranking dos países que mais consomem derivados anfetamínicos. Os dados citados pelo diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, durante a abertura do Painel Técnico Internacional sobre Eficácia e Segurança dos Medicamentos Inibidores de Apetite, evidenciam uma contradição. Se os índices de obesidade têm crescido no Brasil nos últimos anos, qual a eficácia da utilização dos anorexígenos no tratamento da obesidade?

Esse e outros questionamentos norteiam o Painel Internacional promovido pela Anvisa, nesta terça-feira (14), em Brasília. O objetivo é identificar o perfil de segurança e eficácia dos medicamentos inibidores de apetite com a finalidade de dar subsídios à tomada de decisão da Diretoria Colegiada da Anvisa sobre a retirada ou manutenção destes medicamentos no mercado farmacêutico brasileiro.

Durante o período da manhã, o debate se concentrou na análise dos prós e contras do uso da sibutramina, com base nas evidências científicas disponíveis, em especial no mais recente estudo com o medicamento, o estudo SCOUT. A pesquisa em questão foi realizada em 16 países, com 10.744 mil pacientes, e indicou um aumento significativo do risco cardiovascular em pacientes com histórico deste tipo de problema.

Segundo o parecer técnico da Anvisa, os riscos da utilização da sibutramina superam os benefícios. " Os fatores de risco cardiovascular se misturam com a obesidade por si só, sendo difícil separar grupos de pacientes para os quais a utilização do medicamento apresentaria margem de segurança aceitável" , afirmou Laís França, do Núcleo de Investigação em Vigilância Sanitária da Anvisa. Entre as reações adversas destacadas pela técnica, estão: elevação da pressão arterial, arritmias, acidente vascular cerebral hemorrágico, convulsões e depressão.

Representante do comitê do estudo SCOUT, o dinamarquês Christian Pedersen fez uma breve exposição sobre o estudo, apresentando a metodologia utilizada e as conclusões obtidas durante os seis anos de pesquisa. Pedersen ressaltou que os níveis de consumo da sibutramina no Brasil não são razoáveis, mas afirmou que o medicamento pode ser uma alternativa terapêutica eficaz para alguns grupos de pacientes.

" A sibutramina não deve ser prescrita irrestritamente. Os médicos precisam avaliar cuidadosamente todas as alternativas terapêuticas e utilizar primeiro as mais seguras, mas há casos para os quais os benefícios da sibutramina são inquestionáveis, como, por exemplo, no caso de pacientes com problemas nas articulações, com dificuldade para fazer exercícios diariamente" , exemplificou Pedersen.

Segundo o especialista, os medicamentos tipo anfetamínicos, por sua vez, cujos riscos de provocar dependência e problemas psíquicos são amplamente conhecidos, não deveriam ser utilizados como alternativa terapêutica para a obesidade.

Para Ricardo Meirelles, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e professor da PUC-Rio, o uso da sibutramina é benéfico, desde que obedecidas algumas condições. " A eficácia do medicamento é real desde que o paciente apresente perda de peso e desde que o produto seja utilizado em conjunto com aconselhamento nutricional" , detalhou. Para o professor, a retirada do medicamento do mercado vai deixar os médicos com poucas alternativas terapêuticas para o tratamento da obesidade.

O professor Francisco José Roma, da Fundação Oswaldo Cruz, manifestou-se contrariamente a este argumento e afirmou que a falta de opção terapêutica não pode ser justificativa para manutenção de tratamentos ineficazes.

" A relação de consumo de medicamentos é uma relação complexa, com uma série de interesses comerciais que conflitam com o interesse dos usuários. Neste contexto, a Anvisa atua para proteger a população e tem a missão de assegurar que apenas medicamentos benéficos para a população sejam mantidos no mercado. Essa decisão é responsabilidade da autoridade sanitária e não fere, de maneira alguma, a autonomia do médico" , defendeu Roma.

O diretor-presidente da Anvisa destacou a relevância do debate para a tomada de decisão e ressaltou a necessidade de que as entidades que defendem o uso dos anorexígenos apresentem os perfis de pacientes para os quais esses medicamentos devam ser indicados.

Todas as contribuições e informações debatidas serão avaliadas pela Diretoria Colegiada da Anvisa para a tomada de decisão sobre os medicamentos que estão em análise. ( DO Isaúde)

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