Vamos cuidar de nossos "velhinhos"
Publicado em Divulgação científica
11 de outubro de 2007
As doenças neuropsiquiátricas em idosos, como depressão, ansiedade e demência, freqüentemente são diagnosticadas e tratadas inadequadamente.
A afirmação é de estudo desenvolvido pelo médico geriatra Flávio Chaimowicz, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, pela médica Teresinha de Jesus Xavier Martins e pela enfermeira Denise Freire Assumpção, do Programa Saúde da Família, que será apresentado durante o 13º Congresso da Associação Internacional de Psicogeriatria, realizado no período de 14 a 18 de outubro de 2007, em Osaka (Japão), para onde o autor viaja hoje, dia 11.
Segundo Chaimovicz, o objetivo do estudo foi analisar o perfil de utilização de medicamentos psicoativos em 161 idosos, com 65 anos de idade ou mais, residentes em um bairro do município de Campo Belo, MG.
Ele esclarece que foram considerados medicamentos como calmantes, antidepressivos, para evitar convulsões e para tratar doença de Parkinson ou doença de Alzheimer. Avaliou-se o tipo de medicamento, a dose, e se a utilização era regular ou não.
O geriatra, porém, faz questão de chamar a atenção para o fato de que os problemas observados não são exclusivos da população de Campo Belo. “Muito provavelmente, eles ocorrem em outros municípios semelhantes, no Brasil. A abordagem adequada dessa situação poderá contribuir para melhorar a qualidade de vida dos idosos, sendo a eles oferecido tratamento mais adequado para depressão, ansiedade e doença de Alzheimer”, conclui.
O estudo passo-a-passso
1) Excesso de calmantes: Constatou-se que quase 10% desta população utilizavam benzodiazepínicos (calmantes) de meia-vida longa. Este tipo de droga é contra-indicado para idosos, pois pode provocar sonolência durante o dia, sedação, prejuízo da memória e aumenta o risco de quedas. Por terem “meia-vida longa”, são eliminados do organismo muito lentamente; ao tomar uma dose na 2ª, 3ª e 4ª feira, a ação do medicamento persiste na 5ª, 6ª e sábado. Os “vilões” mais comuns eram o diazepam e bromazepam.
2) Uso infrequente de antidepressivos: Os pesquisadores avaliaram também se os idosos apresentavam sintomas de depressão. Nesta amostra, 11% dos idosos apresentavam sintomas (como tristeza ou desinteresse por atividades que antes realizavam com prazer) que, em conjunto, sugeriam o diagnóstico de depressão. Apesar disto, menos de 3% dos idosos usavam antidepressivos, o que sugere que muitos casos de depressão não estavam sendo adequadamente diagnosticados ou tratados. É possível que idosos mais velhos (mais de 80 anos) com depressão estivessem tomando calmantes, pois nesta idade, muitas vezes a depressão se manifesta como irritabilidade e ansiedade. Além do mais, todos os antidepressivos utilizados eram do tipo “cíclicos”, que está longe de ser a primeira opção para idosos, pois podem provocar efeitos colaterais como boca seca, constipação intestinal e arritmias do coração.
3) Nenhum idoso tratando Doença de Parkinson ou Alzheimer: Em uma população como esta, é esperado encontrar alguns casos de Doença de Parkinson e de Doença de Alzheimer, que requerem tratamento com medicamentos (anticolinesterásicos para Alzheimer; levodopa para Parkinson). No entanto, nenhum idoso utilizava estes medicamentos. Quadros de agitação nestas doenças geralmente são evitados pelo tratamento com os anticolinesterásicos, com antidepressivos de boa qualidade ou mesmo com neurolépticos, mas nenhum destes medicamentos era utilizado. É possível que idosos com Doença de Alzheimer sem tratamento estivessem apresentando quadros de agitação e sendo tratados – inadequadamente – com calmantes.
4) Uso de placebos (medicamentos sem eficácia): muitos idosos utilizavam placebos como cinarizina, flunarizina e codergocrina. Estes medicamentos não têm nenhuma eficácia comprovada e, no caso dos dois primeiros, podem até mesmo provocar sintomas de doença de Parkinson. É provável que idosos com queixas típicas de depressão (cabeça vazia, tonteiras), estivessem usando os placebos para tentar controlar estes sintomas.
5) Tratamento inadequado da hipertensão: Apesar da disponibilidade de vários antihipertensivos seguros e eficazes para idosos, de cada 6 idosos tratando hipertensão arterial, um utilizava metil-dopa. Este medicamento, que tem ação no sistema nervoso central, pode provocar sedação e reduções súbitas de pressão, aumentando o risco de quedas. Pode também provocar boca seca, depressão e redução do interesse pelo sexo.
Este padrão de consumo de medicamentos psicoativos provavelmente tem várias causas:
- dentre os calmantes e antidepressivos, somente o diazepam e os cíclicos são disponíveis gratuitamente na rede pública.
- a dificuldade de acesso a programas de educação médica continuada pode favorecer a manutenção de hábitos antigos de prescrição.
- a ausência de disponibilidade de outras abordagens terapêuticas, como a psicoterapia, limita as opções de tratamento.
- o perfil de doenças neuropsiquiátricas em idosos ainda é pouco reconhecido e valorizado.
Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG
Redação e foto: Marcus Vinicius dos Santos – Jornalista
jornalismo@medicina.ufmg.br – (31) 3248 9651
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fonte: http://www.medicina.ufmg.br/noticias/?p=584
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