quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

PI - Farmacinha em casa pode causar intoxicação

Segundo pesquisa realizada no Piauí, a maioria das pessoas não tem orientação para assegurar o uso racional e desconhecem a toxicidade dos medicamentos.

AGÊNCIA NOTISA – Uma resolução criada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece que, desde o final de novembro deste ano, as farmácias e drogarias do país só devem vender antibióticos prescritos em duas vias, sendo que uma delas deve ficar retida no estabelecimento. A medida busca contribuir para o uso racional de medicamentos. Entretanto, o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho nesse sentido. De acordo com um estudo de Geandra Lima, do Centro de Ensino Unificado de Teresina, e colegas muitas famílias ainda mantêm em estoque medicações básicas, enquanto outras acumulam um "arsenal terapêutico".

Os pesquisadores contam no artigo publicado este ano na revista Ciência & Saúde Coletiva que chegaram a essa conclusão após analisar 52 famílias que residiam no município de Cristino Castro (PI). Os participantes faziam parte de uma comunidade atendida pelo Programa Saúde da Família (PSF). Os autores investigaram a forma de armazenamento/uso de medicamentos e o conhecimento que os participantes tinham sobre os medicamentos que guardavam em casa.

De fevereiro a março de 2006, profissionais da equipe de saúde da família coletaram informações referentes aos medicamentos durante visitas domiciliares. Os dados foram obtidos por questionários e observações.

“Constatou-se que grande percentual dos medicamentos estocados é daqueles vendidos sem receita médica e que caracterizam a automedicação, mas convém ressaltar que este fato não os torna isentos de perigo e não diminuem a importância e a necessidade de orientação para o seu consumo”, afirmam os autores no artigo.

Mas eles destacam que também encontraram um percentual relevante de antimicrobianos armazenados nos domicílios. “Foi encontrada variação de uso a depender do tipo de infecção e agente etiológico, observando-se que 68% das pessoas que os mantêm em casa os adquiriram por conta própria; destes, 59% desconheciam a real indicação e a posologia, usando-os de forma indiscriminada como paliativo (sintomático)”, afirmam.

A pesquisa revelou ainda que das pessoas responsáveis por guardar os medicamentos, 62% não possuem orientação mínima para assegurar o uso racional. Além disso, a maioria não tem ciência da toxicidade das drogas armazenadas.

Os pesquisadores destacam que “54,10% dos medicamentos estavam ao alcance de crianças e animais domésticos e 15,92% não possuíam rótulo ou qualquer identificação”.

Para eles, “a baixa renda e baixa escolaridade da população” foram fatores agravantes na efetiva orientação terapêutica e acesso aos fármacos. Os autores alertam para a necessidade de implementar estratégias, especialmente educativas, que contemplem, por exemplo, revisões sistemáticas nas “farmácias caseiras”.


Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

Nenhum comentário:

Postar um comentário